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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O galope do dólar

As apostas de que essa alta vá continuar se multiplicam no mercado financeiro e isso, por si só, tende a tornar-se profecia com certo grau de autorrealização

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Atualização:

As cotações do dólar no câmbio interno ultrapassaram, nesta terça-feira, a barreira dos R$ 2,40 (veja o gráfico), o que acumula alta de 7,4% em setembro e de 9,5% em 12 meses.

As apostas de que essa alta vá continuar se multiplicam no mercado financeiro e isso, por si só, tende a tornar-se profecia com certo grau de autorrealização.

São cinco as forças que tendem a criar no mercado interno ou uma demanda mais forte do que a oferta de moeda estrangeira ou uma redução da oferta, fatores que deverão puxar pela continuidade da alta.

 Foto: Estadão

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A primeira dessas forças é a perspectiva de baixa dos preços das commodities no mercado internacional, que pesam cerca de 50% nas exportações brasileiras. Só neste ano, os preços da soja caíram 18,45%, os do minério de ferro, 40% e os do milho, 27,80%. É fator que reduzirá o faturamento em moeda estrangeira.

A segunda força é a tendência a uma relativa escassez de dólares no mercado internacional, determinada pela disposição do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de enxugar o volume de moeda emitido ao longo da crise financeira.

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A terceira força que tende, desta vez, a aumentar a procura de moeda estrangeira são as incertezas criadas não só pelo período eleitoral, mas também pelas mudanças de governo. Enquanto não se conhecerem as diretrizes de política econômica e as novas prioridades, os agentes econômicos tendem a tomar atitudes defensivas, o que implica aumento de posições em moeda estrangeira.

O Banco Central já vinha atuando pesadamente, por meio de leilões de swaps cambiais (que equivalem à venda futura de dólares), para alimentar a oferta de moeda estrangeira. Seu objetivo foi impedir a escalada dos preços dos importados e, assim, evitar o impacto sobre a inflação. Mas o volume já está perto dos US$ 100 bilhões (pouco menos de um terço das reservas externas), o que impõe limites à continuidade dessa atuação.

Outro fator inexorável de alta dos preços da moeda estrangeira é a ameaça de perda do grau de investimento conferido pelas agências de classificação de risco. Sem uma virada forte e confiável na condução da política fiscal, esse rebaixamento dificilmente será evitado. Se isso acontecer, ficará substancialmente reduzido no exterior o interesse pelos títulos de dívida do Brasil e, portanto, a disposição para adquiri-los. Nesse caso, o impacto não se limitaria à alta dos juros dos títulos brasileiros, mas também à redução da entrada de recursos externos. Não se pode ignorar, também, a crise de pagamentos da Argentina, responsável por 8,1% das exportações brasileiras em 2013. Elas já caíram 23,5% nos primeiros oito meses deste ano e tendem a cair ainda mais.

De um certo ponto de vista, a desvalorização do real é bem-vinda, na medida em que concorre para dar mais competitividade ao setor produtivo brasileiro, especialmente para a indústria. Traz o defeito de acontecer sem que os desequilíbrios dos fundamentos da economia sejam corrigidos. E, inevitavelmente, repassa à sociedade a conta do aumento em reais dos preços dos produtos importados e, portanto, de mais inflação.

CONFIRA:

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 Foto: Estadão

Esta é a evolução da arrecadação da Receita Federal nos últimos meses.

Difícil A arrecadação de agosto foi 5,54% mais alta em termos reais (descontada a inflação) em relação a agosto de 2013 e 4,73% mais baixa do que a de julho. O governo esperava mais. A meta era obter R$ 10 bilhões apenas com o Refis (pagamento de atrasados), mas não conseguiu mais do que R$ 7,1 bilhões. O problema de fundo é o baixo crescimento do PIB. Fica cada vez mais difícil o cumprimento da meta fiscal de 2014 (superávit de 1,9% do PIB para pagamento da dívida).

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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