Não se pode argumentar que esse resultado se deve apenas às condições privilegiadas com que operam os bancos estatais. Eles, especialmente o Banco do Brasil, de fato detêm as principais contas da administração pública, trabalham em bases cativas com as contas correntes dos funcionários públicos ativos e aposentados e ainda contam com linhas oficiais de crédito sobre as quais não têm de recolher depósitos compulsórios.
Essa situação privilegiada sempre ocorreu e, no entanto, até agora não havia levado o Banco do Brasil a obter lucros tão impressionantes quanto os apresentados agora.
Também não tem cabimento afirmar que, em boa parte, esse resultado deva ser visto como pirotecnia contábil destinada a preparar o terreno para a subscrição recorde de capital da empresa aqui e no exterior, tal como projetada pela diretoria e pelo governo federal.
A avaliação do desempenho do Banco tem de ser procurada em outros fatores.
O primeiro deles foi acertadamente festejado pelo governo federal e pela diretoria do próprio Banco do Brasil. Foi ter feito a escolha certa num momento adverso, no auge da crise. Em vez de se agachar defensivamente, como aparentemente pretendia a diretoria anterior, a instituição respondeu à altura à política anticíclica determinada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e assumiu postura agressiva de atendimento ao mercado interno.
Atirou-se ao crédito, ao aumento de participação no mercado, na contramão da postura defensiva assumida pelos bancos privados. Esse resultado não é outro senão o efeito da maior agilidade e da determinação em proporção adequada assumida ao longo do ano passado.
A segunda observação que tem de ser feita é a de que esse superlucro é também consequência da cobrança de spreads (diferença entre o custo do dinheiro para o banco e seu retorno nas operações ativas), juros e tarifas escorchantes cobradas dos seus clientes. Nisso, o Banco do Brasil pouco ou quase nada se diferencia dos outros bancos brasileiros, que até agora não têm contribuído suficientemente para a derrubada de um dos principais componentes do custo Brasil, que é o elevado custo financeiro.
O sistema bancário nacional opera em bases oligopolísticas e impõe a seus clientes preços inteiramente fora dos padrões internacionais, mesmo levando-se em conta o histórico e as peculiaridades do mercado financeiro interno. E isso vale tanto para os bancos privados quanto para os bancos oficiais.
Isso significa que os bancos oficiais ainda têm um longo caminho para avançar de maneira a desempenhar uma de suas principais funções, que é estabelecer um ambiente de sadia competitividade no mercado.
Confira
Resgate líquido - Os últimos números do Banco Central que registram a movimentação dos saldos das cadernetas de poupança são do dia 22. Eles mostram um resgate líquido de 0,2% sobre as posições de final de janeiro, de R$ 323,2 bilhões.
Não dá para dizer que em fevereiro os saques sobrepujaram os depósitos porque, a cada última semana de mês, os saldos tendem a crescer.
O que dá para dizer, também desta vez, é que até agora não houve a revoada de depósitos das cadernetas para as outras aplicações financeiras que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tanto temia.