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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O rombo aumenta

As Contas Externas de 2010 divulgadas nesta terça-feira pelo Banco Central apresentaram resultados contraditórios e crescimento do risco de descontrole.

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Atualização:

O rombo (déficit em transações correntes) está crescendo e as projeções do Banco Central apontam um aumento de 25% em 2011. A maior preocupação não é com o tamanho do déficit, mas com a velocidade do aumento (veja o gráfico). Antes de seguir, vamos aos conceitos.

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As Contas Correntes (ou Transações Correntes) englobam três subcontas do fluxo geral de pagamentos e recebimentos para/do exterior: balança comercial (exportações e importações); balança de serviços (juros, transporte, turismo, royalties, aluguéis, lucros e dividendos); e as transferências unilaterais (o dinheiro remetido para os familiares que estudam lá fora ou os recursos que os brasileiros que trabalham no exterior mandam para suas famílias).

Esse rombo saltou de US$ 24,4 bilhões (1,52% do PIB) em 2009 para US$ 47,5 bilhões (2,28% do PIB) em 2010. Para 2011, o Banco Central prevê um rombo de US$ 64,0 bilhões (2,84% do PIB). Como as reservas estão crescendo, o déficit está sendo mais do que compensado com a entrada de capitais. Os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) surpreenderam. Cresceram US$ 15,4 bilhões apenas em dezembro, acumulando uma entrada líquida no ano de US$ 48,5 bilhões, aumento de 86,8%. Como se trata de produção futura, a chegada desses recursos é bem-vinda, embora concorra para achatar as cotações do dólar aqui dentro (valorização do real) e, em certa medida, tire competitividade do setor produtivo.

Mas, afinal, o forte aumento do déficit externo é ou não preocupante e por quê? A principal fonte de preocupações está nas causas desse rombo. Quase sempre, como agora, é resultado de uma disparada do consumo. E a disparada do consumo tem a ver tanto com a valorização do real (que eleva o salário em dólares) e com o avanço das despesas públicas, que aumenta as importações (mais 41,7% em 2010) e os gastos nas viagens internacionais (mais 87,7%).

Enquanto for coberto com entrada de capitais de boa qualidade (especialmente investimentos), o rombo nas Contas Correntes até ajuda a puxar o crescimento e o emprego. As altas reservas internacionais (perto de US$ 300 bilhões) ajudam a manter o clima de confiança. No entanto, o grande risco é o de que o déficit aumente tanto e tão rapidamente que as reservas comecem a baixar e se levantem dúvidas quanto à capacidade futura de pagamento do Brasil.

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Se e quando isso acontecer, em pouco tempo a entrada de capitais pode estancar, o que seria desastroso se ocorrer no momento em que o País mais precisa de investimentos estrangeiros para dar conta dos projetos de desenvolvimento do PAC, do pré-sal, das obras para a Olimpíada e a Copa do Mundo.

É por isso que, apesar das críticas daqueles que pedem maior valor agregado aos produtos brasileiros, o forte aumento das exportações de commodities (especialmente alimentos e minério de ferro) ajuda a manter o clima externo de confiança. Mas é claro que alguma coisa tem de ser feita para segurar o excesso de despesas públicas e a disparada do consumo.

CONFIRA

Hablas guarani? O leitor Alberto Martinet criticou a pretensão do Paraguai de adotar o guarani como língua oficial do Mercosul. Ele lembra que o excesso de respeito pelas etnias conduziu a União Europeia ao colapso burocrático. Emplacou 23 línguas oficiais, todas com direito a documentos oficiais e traduções simultâneas.

Estoniano e maltês. "Como não existem intérpretes capazes de traduzir diretamente, por exemplo, do estoniano para o maltês, a translação tem de ser feita em duas etapas: do estoniano para o inglês, em seguida do inglês para o maltês. Com toda a perda de qualidade que isso implica."

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Quíchua e aimará. Se o guarani for aceito como língua oficial estará criado um precedente. Quando o Peru e a Bolívia entrarem no Mercosul, vão exigir que o quíchua e o aimará tenham o mesmo tratamento. Afora isso, os etnólogos catalogam 180 línguas indígenas faladas apenas no Brasil. Vão todas para o Mercosul?

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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