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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Paradeira na Europa

As estatísticas não revelaram nada de muito diferente do que já se esperava, mas o reconhecimento oficial de que a área do euro vive a maior recessão de sua ainda curta história (14 anos) tem tudo para ser suficiente para exasperar os ânimos que já estavam à beira da exasperação.

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Atualização:

O conceito de recessão envolve certo grau de arbitrariedade, mas não há melhor. Os economistas estabeleceram a convenção de que um país ou região entra em recessão quando a atividade econômica (PIB) se contrai (crescimento negativo) por três trimestres consecutivos. Na média dos seus 17 países, o euro está em recessão há 6 trimestres.

 Foto: Estadão

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A gritaria deve crescer. Há enorme cansaço físico e político provocado pelo prolongado aperto de cintos. Dirigentes políticos da área batalham para reduzir o ritmo do ajuste combinado no bloco, que implica contração das despesas públicas, sacrifício e desemprego. E, nesse jogo de pressões, o maior foco de críticas é a Alemanha, da chanceler Angela Merkel, campeã das exigências por mais austeridade.

Uma recessão tão prolongada como esta traz efeitos perversos. A redução da atividade econômica diminui a arrecadação dos tesouros públicos, porque os impostos são cobrados sobre produção e vendas. Ao mesmo tempo, aumenta as despesas públicas, porque o fechamento de postos de trabalho amplia as despesas do Estado com seguro-desemprego, especialmente altas na Europa, onde os níveis de proteção social são elevados.

Quando uma economia está excessivamente endividada, é preciso cortar salários para baixar custos de produção e estimular o setor produtivo. O corte de salários se obtém por meio da recessão, que esfria o mercado de trabalho e cria desemprego. Se cada país tivesse sua própria moeda, o ajuste seria menos notado e menos doloroso. Bastaria desvalorizar a moeda nacional, os salários cairiam e a produção ficaria mais barata em moeda estrangeira, as exportações aumentariam e, em princípio, a economia se recuperaria. Como o bloco tem uma moeda comum, não dá para recorrer à desvalorização cambial.

As queixas contra a recessão e o desemprego não resolvem o problema de fundo, que é a cobertura das dívidas. Sempre chega, como já chegou, o momento em que o credor desiste de financiar os rombos orçamentários e passa a cobrar juros mais altos, que agravam o endividamento.

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A paradeira europeia castiga não só europeus. Ela derruba as encomendas ao resto do mundo. Mas a falta de perspectiva de ajuste castiga ainda mais, por adiar indefinidamente a recuperação.

Os níveis de desemprego seguem altos, como mostra o Confira. Esses números escondem algo ainda mais terrível: a falta de perspectiva profissional para os recém-formados. Na Espanha, por exemplo, um em cada dois jovens não consegue trabalho.

Se fosse somente econômico, o problema teria soluções técnicas relativamente fáceis. O diabo é que é também político, numa situação em que os políticos não têm proposta melhor do que a distribuição de sacrifícios em doses cada vez mais insuportáveis.

CONFIRA:

 Foto: Estadão

Esta é situação do emprego em 11 países da área do euro e a situação consolidada no bloco.

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Desvalorização. Alguns analistas vêm alertando para a necessidade de desvalorização do real com o objetivo de dar competitividade ao setor produtivo, principalmente à indústria. Neste ano e no próximo, a probabilidade de que o governo federal manobre nessa direção parece baixa. Para que uma desvalorização cambial relevante não provoque efeitos inflacionários e alta dos juros, será preciso que o governo compense esse movimento com forte redução de despesas. Em clima pré-eleitoral, esta é uma opção improvável.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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