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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Pleno emprego

Como um dos principais objetivos da Política Econômica é garantir postos de trabalho para a população ativa, o nível de desemprego de apenas 4,9%, divulgado nesta sexta-feira pelo IBGE, poderia ser celebrado como grande feito do governo Dilma - não fosse o desequilíbrio do resto da economia.

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Atualização:

Desde 2002, quando começou a divulgação dos resultados da Pesquisa Mensal de Emprego, é o segundo nível mais baixo já registrado. É verdade que o mercado de trabalho sempre opera mais aquecido em novembro e dezembro. É temporada de contratações temporárias destinadas a atender às necessidades de aumento da produção e maior movimento do comércio antes das festas de fim de ano. É também período de semeadura no Centro-Sul, que ocupa mais mão de obra no campo. Mesmo descontados os fatores sazonais, os números são positivos. Apontam para desemprego equivalente de 5,3%.

 Foto: Estadão

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No entanto, é preciso ver o todo. O pleno emprego está sendo obtido com aumento do consumo muito acima da elevação da atividade econômica. Afinal, é o segundo ano seguido de avanço decepcionante do PIB, agravado por um salto da inflação que deverá beirar os 6%.

Entre as principais causas da perda de competitividade da indústria está o enorme custo Brasil: excessiva carga tributária, juros na lua, infraestrutura precária e muito cara, Justiça ineficiente, altas tarifas de energia elétrica e de comunicações... enfim, essas coisas já exaustivamente comentadas.

O problema imediato é que o mercado de trabalho fortemente aquecido tende a aumentar ainda mais os custos e a agravar a perda de competitividade do setor produtivo - como na quinta-feira advertiu o Banco Central no Relatório de Inflação.

O governo Dilma reconhece a existência do desequilíbrio. Mas entende que é fruto da mudança estrutural da economia e, portanto, temporário. Explica, em parte, como resultado da derrubada dos juros que, num primeiro momento, achatou o retorno financeiro das empresas que vinham dependendo mais das aplicações de caixa do que do resultado operacional. E aponta, também, o fator câmbio, que aumentou os custos financeiros das empresas endividadas em moeda estrangeira e os custos dos produtores dependentes de fornecimento externo de matérias-primas, peças e componentes.

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Mas esse diagnóstico é só parte da história. O desequilíbrio tem causas mais profundas e tende a persistir por mais tempo do que sugerem as autoridades.

O setor produtivo não vem dando conta do aumento do consumo pelos fatores acima indicados e também pela falta de investimento. A equipe econômica do governo mostrou preocupação com o problema. Começou a derrubar os custos da produção e a recuperar a infraestrutura. Mas, por enquanto, o já anunciado é pouco, sobretudo se for levada em conta a demora dos resultados.

O Banco Central já deu indicações suficientes de que, a esta altura, o pleno emprego trabalha contra o controle da inflação. Não está sendo compensado por aumento da produtividade. Se é assim num ritmo de PIB abaixo de 1%, tenderá a ser ainda mais inflacionário caso se confirme a expectativa do governo de que, em 2013, a atividade econômica crescerá 4,0%.

CONFIRA

 Foto: Estadão

Na tabela, o último índice de desemprego registrado por 24 países.

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Retificação. Não foi o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, quem disse que um reajuste de 10% nos combustíveis somaria 0,9 ponto porcentual à inflação anual - como saiu na edição passada. Foi o economista-chefe da MCM Consultoria, Fernando Genta. No entanto, apontou elevação inferior, de 0,35 ponto porcentual em 12 meses. A Coluna pede desculpas pelo deslize.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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