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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Pode ser a gota d'água

Quem afirma que o atual repuxo da inflação está sendo causado pela seca está pinçando só um pedacinho de verdade. É o mesmo que sustentar que os megaengarrafamentos de trânsito em São Paulo são produzidos ou por acidentes que envolvem motoqueiros, ou por eventual toró que despenca numa tarde qualquer, ou, ainda, por obras da Prefeitura.

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Atualização:

Esses e outros fatores dão lá sua contribuição para o emperramento geral, é verdade. Mas o fato mais relevante é que há muito o trânsito nas grandes cidades virou o caos que é porque há carro demais e porque o transporte público é precário.

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Assim, também, é a inflação. É uma corda tão esticada que basta um período de seca ou mesmo chuvoso demais para que surjam novas convulsões.

Há anos não se via uma prévia tão explosiva do IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) como a divulgada nesta quarta-feira: alta de 1,41% na segunda prévia de março. Só para comparar, em fevereiro, foi de 0,24%. Por trás desse número está a disparada dos preços dos alimentos, em consequência da seca.

Mas, como nos congestionamentos, os problemas são mais profundos. A seca provocou estragos nas plantações de tomate e esses estragos foram transferidos aos preços. Mas os preços estão sendo sancionados pela forte demanda.

Ainda nesta quarta ficou claro que os postos de combustíveis estão elevando os preços da gasolina e do óleo diesel sem que tenham sido recompostos os preços nas refinarias. É que a demanda firme está sancionando a alta. O consumidor paga, com alguma ou nenhuma chiadeira.

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A cavalgada do IGP-M aponta para mais dois problemas. O primeiro é o que alguns economistas já chamaram de gravidez de inflação. A alta por enquanto está concentrada nos preços no atacado (no IGP-M, os preços no atacado entram com 60% do peso). Mas tende a ser transferida para o varejo (custo de vida).

O segundo problema é a turbinagem produzida pelas correções automáticas. O IGP-M é o índice mais utilizado nas correções dos aluguéis e dos financiamentos. Ou seja, a alta do tomate desemboca no preço da moradia e nos contratos de crédito.

O Banco Central, a instituição encarregada de combater a inflação, não tem como derrubar os preços do tomate. Isso apenas acontecerá quando os produtores estiverem em condições de normalizar o fornecimento. Mas o Banco Central terá de combater os efeitos colaterais com o instrumento de que dispõe, a política monetária (política de juros), que é o fole que injeta ou retira moeda do sistema e, assim, reduz ou aumenta os juros da economia.

Se o governo apertasse mais a política fiscal (o fole que aumenta ou reduz as despesas públicas), o Banco Central teria um aliado. Mas está acontecendo o contrário. A informação recorrente é de que, nessa prateleira, as coisas estão piorando. Um dia é o déficit da Previdência que vai ter novo estouro; outro, que a arrecadação ficou abaixo do esperado; ou, então, que o Tesouro terá de pagar uma conta mais alta de energia elétrica. Enfim, a economia é um pote cheio até aqui. "Qualquer desatenção, faça não. Pode ser a gota d'água."

CONFIRA:

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 Foto: Estadão

Veja como evoluiu o consumo de energia elétrica nos últimos dois anos, nos três mais importantes segmentos da economia.

Amarelou

Já não é mais como dizia, ainda dia 22 de fevereiro, o pouco transparente ministro de Minas e Energia, Edison Lobão: "Mesmo se não cair mais nenhuma gota de chuva este ano, não teremos racionamento de energia elétrica". Agora há pelo menos um sinal amarelo aceso no Ministério. Foi o que disse nesta quarta o secretário executivo (vice-ministro) Márcio Zimmermann.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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