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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Por que a inflação não cai?

Afinal, a política de juros funciona ou não funciona?

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Atualização:

A resposta, assim na lata, é que, mal ou bem, funciona. No entanto, é tanta a interferência de outros fatores nos mecanismos de transmissão impostos pelo Banco Central (BC), que a política de juros opera no Brasil como um carro que se desloca com o freio de mão puxado e leva muita água na gasolina.

Há alguns anos, certos economistas, entre os quais o professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, defendiam o ponto de vista de que os juros básicos (Selic) poderiam ser derrubados vigorosamente no Brasil sem que produzissem inflação relevante.

 Foto: Estadão

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Se não antes, essa opinião ficou prejudicada no início do governo Dilma, quando o BC derrubou implacavelmente a Selic de 12,5% ao ano, em julho de 2011, para 7,25%, em outubro de 2012. O resultado foi o disparo da inflação que obrigou o BC a puxar os juros de volta ao patamar anterior.

Nesta terça-feira, no jornal Valor, o professor Yoshiaki Nakano, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), defendeu um ponto de vista em outra direção. O de que a alta dos juros sozinha pode não ter capacidade de conter os preços com que conta o BC. Ele aponta para três fatores que podem aumentar ou diminuir a inflação, mesmo com redução do volume de moeda na economia (alta de juros).

O primeiro é o impacto do câmbio (cotação do dólar). Nakano entende que, no período de 2004 a 2006 (gestão Henrique Meirelles no BC), em que a política de metas de inflação pareceu funcionar, foi, na verdade, a política de valorização do real (baixa do dólar) que fez a maior parte do serviço. A partir de 2008, quando o dólar saltou de R$ 1,60 para R$2,35, onde está hoje, iniciou-se o processo em direção contrária, e o câmbio passou a produzir inflação, apesar do aperto na oferta de moeda (alta dos juros).

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O segundo fator são os choques de oferta, como os resultados de uma seca implacável que eleva os preços dos alimentos, como está acontecendo.

E tem a poderosa jabuticaba que atua contra a política monetária, que são os tais preços administrados, correspondentes a 25% de todos os preços da economia. Sobre esse segmento, nem aperto nem desaperto dos juros funcionam, porque preços e tarifas se movem de acordo com a volátil política do governo. Com outra agravante: Como mais cedo ou mais tarde (em geral, de acordo com o calendário eleitoral) o governo terá de recompor esses preços, os empresários tendem a agir preventivamente e praticar reajustes de acordo com essa expectativa e não propriamente com o que for determinado pelo BC. É por isso que o frete sobe, mesmo sem reajuste imediato dos preços do óleo diesel.

Há três outros fatores, não citados por Nakano, que tiram eficácia da política de juros: (1) falta de firmeza da política fiscal, que é controle frouxo das despesas públicas; (2) o sistema automático de reajustes (indexação); e (3) a farta distribuição de créditos subsidiados, especialmente pelo BNDES, cujos beneficiários são menos alcançados pelas decisões do Copom que envolvem o crédito.

Enfim, para dar eficácia à política de juros muita coisa tem de mudar na economia brasileira.

CONFIRA:

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 Foto: Estadão

Este é o desempenho do setor de serviços, que pesa quase 70% no PIB.

Esqueçam o que eu disse. Depois de enquadrado pela presidente Dilma, o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, desdisse o que dissera ao jornal Valor (edição de segunda-feira) e admitiu, em nota oficial, que o rombo da Previdência Social neste ano poderá limitar-se a R$ 40 bilhões, como garantira semanas antes do governo. Mas a nota não explicou por que, de repente, as razões que levaram à conclusão de que o déficit seria R$ 10 bilhões mais alto foram ultrapassadas.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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