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Nesta quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o Banco Central (BC) anunciaram providências destinadas a aumentar e facilitar a segurança no crédito

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Atualização:

Nesta quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o Banco Central (BC) anunciaram providências destinadas a aumentar e facilitar a segurança no crédito.

Vão na linha das medidas tomadas no dia 25 de julho, que começaram a flexibilizar o depósito compulsório, a parcela do dinheiro dos clientes que os bancos têm de deixar no BC. Procuram acelerar o crédito e, portanto, o consumo e a atividade econômica.

 Foto: Estadão

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Mantega. "Não está patinando" (FOTO: ANDRE DUSEK/ESTADAO)

Não deverão ter impacto imediato, por duas razões: primeira, porque os novos recursos hoje disponíveis são relativamente baixos, como a seguir se verá; e, segunda, porque as decisões do Ministério da Fazenda (e não as do Banco Central) dependem de leis e regulamentação suplementar. Afora isso, nos próximos meses não se espera grande entusiasmo do consumidor pela tomada de empréstimos.

Mas a ideia de desburocratizar e criar novos mecanismos de alavancagem do crédito, especialmente no setor imobiliário e no de veículos, pode facilitar as operações no futuro.

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A principal decisão do Banco Central autoriza os bancos a usar mais 10% do que estão obrigados a depositar no BC (depósito compulsório) nas aplicações a prazo dos seus clientes, desde que esses recursos sejam usados para novas operações de crédito ao varejo.Pelos cálculos do próprio Banco Central, mais R$ 10 bilhões serão injetados nesse segmento, além dos R$ 45 bilhões adiantados em julho. É uma insignificância diante do saldo atual do crédito no Brasil, de R$ 2,9 trilhões.

Esta é uma iniciativa com certa dose de contradição. O movimento predominante do Banco Central é de acionamento dos freios, na medida em que a política monetária (política de juros) procura enfraquecer o consumo, a atividade e a inflação, por meio da redução da ração de moeda na economia (juros altos), e não o contrário.

As novas decisões tentam acelerar o consumo e, assim, confundem as expectativas. O mercado, que vive de comunicações claras do BC, vacila em relação à direção pretendida.

O governo (e não só o Banco Central) está pressionado por forças opostas.De um lado, tem de combater a inflação, que dança sobre o precipício. De outro, enfrenta a prostração da economia. E tem dificuldade para fazer suas escolhas. Não basta jurar que "a economia não está patinando" - como, nesta quarta-feira, jurou Mantega, quando os dados apontam para o contrário.

O efeito prático imediato parece baixo. As vendas não estão emperradas por falta de crédito, mas por outras razões. A primeira delas é a erosão no poder aquisitivo provocada pela inflação. A segunda, o excessivo endividamento das famílias. E, a terceira razão, a disseminação da percepção geral de que os tempos estão mais difíceis, de que o emprego está sob risco e de que o orçamento doméstico está mais comprometido, o que induz a um comportamento mais conservador por parte do consumidor.Neste momento, ele resiste a buscar mais crédito.

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O baixo fôlego das decisões desta quarta-feira mostra que o arsenal de resposta do governo à paradeira está esgotado. Ficaram para trás os tempos em que o Tesouro tinha farta munição para as tais políticas compensatórias anticíclicas. E o brasileiro parece suficientemente esperto para deixar-se levar apenas pela conversa enroladora das nossas autoridades.

CONFIRA:

 Foto: Estadão

Aí está a evolução mês a mês do IPCA-15 medido em período de 12 meses. Mostra acomodação dos preços no varejo (custo de vida). Para que o teto da meta anual (6,5%) volte a ser estourado, será preciso que a evolução do IPCA em agosto (sobre julho) seja de, pelo menos, 0,25%.

15 a 14

O IPCA-15 é o mesmo IPCA, o medidor mensal da inflação. A diferença é a de que a evolução de preços não é aferida no mês-calendário (do dia 30 a 30 do mês seguinte), mas no período que começa no dia 15 de um mês e termina no dia 14 do seguinte.

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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