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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Propinoduto

A diretoria da empresa alega que não sabia de nada. Levou um gol após o outro pelo vão das pernas, mas agarra-se à explicação de que sua administração vem sendo marcada pela melhor das intenções

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Atualização:

Para o ex-ministro Delfim Netto, a estrutura administrativa da Petrobrás é uma aberração: "É uma empresa sem alçadas. Um diretor tem plena autonomia tanto para comprar um rolo de papel higiênico quanto para negociar uma refinaria". Foi a observação que ele fez, domingo, no programa Canal Livre, da TV Bandeirantes.

Não foi muito diferente do que afirmou terça-feira o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, quando atacou a administração "desastrosa" da petroleira e pediu a destituição imediata da atual diretoria.

Graça. Quem sabia? ( Foto: Marcos de Paula/Estadão)

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Boa pergunta consiste em saber se a falta de alçadas e de controles internos não vem de mais longe e se, a partir de determinado momento, não foi intencional, para que a Petrobrás pudesse se prestar a ser o propinoduto multibilionário de que a sociedade brasileira agora começa a tomar conhecimento. Apenas um gerente da área de Serviços, Pedro Barusco, se comprometeu a devolver à Justiça nada menos que US$ 100 milhões por ele desviados. Essa montanha de dólares é apenas aquela que ele está em condições de devolver. Por aí dá para se ter uma certa ideia das magnitudes envolvidas.

A diretoria da empresa alega que não sabia de nada. Levou um gol após o outro pelo vão das pernas, mas agarra-se à explicação de que sua administração vem sendo marcada pela melhor das intenções. Há alguns meses, instituiu comissões internas de averiguação que também não apuraram nada. E aí já não sabemos o que é pior para o interesse público: a participação e a conivência nos desmandos ou a incapacidade de coibir não a ação de carunchos miúdos, mas a intensa e sistemática atividade predatória de esquemas organizados. Só agora é que acaba de ser criada uma diretoria de Compliance, com o objetivo de instituir controles. Então basta isso para que tudo se considere lavado e novo?

A presidente Graça Foster passou meses declarando que os atrasos e a disparada de custos da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, eram coisas que não se poderiam repetir na Petrobrás. Mas aparentemente não buscou as causas dessa e de outras distorções de maneira que não pudessem voltar a acontecer. Além disso, não mostrou firmeza quando saíram as primeiras denúncias sobre as lambanças da Refinaria de Pasadena. A própria presidente Dilma rasgou a minuta anódina que lhe foi envida pela direção da estatal, pela qual deveriam ser levadas a público explicações para a aprovação pelo Conselho de Administração do mau negócio realizado com a compra de Pasadena. E, em lugar da nota vaga, redigiu outra, em que responsabilizou o então diretor da Área Internacional, Nestor Cerveró, pela sonegação de informações cruciais aos membros do Conselho.

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O diretor de Finanças, Almir Barbassa, no cargo desde 2005, sempre tão sensível a quaisquer imprecisões divulgadas pela imprensa que pudessem levantar questionamentos pela Comissão de Valores Mobiliários, não foi capaz de detectar nenhuma anormalidade entre as que produziram os rombos telúricos nas demonstrações contábeis da Petrobrás.

Por tudo quanto se sabe, a presidente Dilma reluta em dar um passo radical, sob o argumento de que não há indícios de envolvimento da atual diretoria nos escândalos. O problema é que a confiança está irremediavelmente quebrada. E é a partir desse fato que é preciso mudar tudo, juntar os cacos e começar de novo.

CONFIRA:

 

Veja aqui a evolução das cotações do petróleo desde novembro.

Novo mergulhoOs preços do petróleo desabaram novamente, aos níveis mais baixos desde 2009. O tipo Brent fechou a US$64,24 por barril (queda de 3,9% em relação ao fechamento do dia anterior) e o WTI, a US$ 60,94 (queda de 4,5%).

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Estoques altos Desta vez, o motivo do tombo forte foi a divulgação do relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos, que revelou estoques de petróleo surpreendentemente altos.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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