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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Salto nos preços

Em pouco mais de uma semana, o avanço do mesmo índice de preços mais do que dobrou. No último dia 27, foi divulgado o IGP-M de fevereiro com avanço de 0,38% sobre o do mês anterior. E nesta segunda-feira, o IGP-DI, também de fevereiro, já acusou salto de 0,85%.

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Atualização:

São duas siglas diferentes para o mesmo medidor de preços. O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) serve para corrigir valores do mercado financeiro e por isso tem de ser conhecido no fim de cada mês. O Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) é o índice mais antigo de aferição de preços (inflação).

 Foto: Estadão

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Ambos são calculados sobre a mesma base de pesquisa pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Deixaram de ser a principal medida de inflação no País quando foi instituído o sistema de metas de inflação. O Banco Central (BC) teve de trabalhar com um índice mais preciso de custo de vida (inflação no varejo). O IGP-DI não se prestava para isso porque é um coquetel um tanto rígido de preços que dão forte peso (60%) para a cesta de preços no atacado.

Ainda que não tenha a mesma importância do passado, quando servia para calcular a correção monetária, o IGP-DI (ou o IGP-M) continua largamente utilizado no mercado financeiro, principalmente nos contratos de aluguel.

O salto do IGP-DI de fevereiro reflete a disparada dos preços dos alimentos. Em janeiro (comparados com dezembro), os alimentos in natura haviam caído 2,99%. Um mês depois, dispararam para 7,03%.

O impacto altista está sendo causado pela seca. Será inevitável que preços mais altos no atacado sejam passados para o varejo. Ainda assim, a maior aceleração dos preços dos produtos hortigranjeiros não foi ainda captada pelos índices. Isso significa que a inflação está apresentando novos focos de alta, independentemente da forma como é medida.

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Na reunião do Copom no dia 26 de fevereiro, o BC recalibrou o volume de dinheiro na economia (aumento dos juros básicos de 0,25 ponto porcentual) sem considerar a nova aceleração dos preços.

Em economias normais, digamos, choques de oferta dos hortigranjeiros e seu impacto sobre os preços não são considerados pela política monetária dirigida pelos bancos centrais, porque não refletem aumento da demanda provocado por excesso de dinheiro. Além disso, se um dia falta tomate por escassez ou excesso de chuvas, três meses depois a oferta tende a se normalizar. Por isso, essas esticadas de preços são "aparadas" dos chamados núcleos de inflação. No Brasil, as correções automáticas de preços (indexação) fortemente difundidas são um mecanismo de perpetuação de inflação. Se a alface acusa um avanço abrupto de preços, em seguida essa alta é transferida para as aplicações financeiras, para os reajustes dos salários e dos aluguéis. Por isso, o BC não pode dar a essas estocadas da inflação o mesmo tratamento que é dado em outros países. Tem de levá-los em conta também na definição dos juros.

Esta é a maior razão pela qual o ciclo de alta dos juros, que começou em abril de 2013 e já escalou 3,5 pontos porcentuais ao ano (para 10,75% ao ano), pode não estar concluído, como alguns avaliaram após leitura da Ata do Copom.

CONFIRA:

 Foto: Estadão

No gráfico, o rastro da queda das cotações do minério de ferro. Nesta segunda, os preços despencaram ao menor nível em 18 meses, para US$ 104,7 a tonelada no mercado à vista (spot). Isso tem a ver com a China.

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Sinal de alerta. Nesta segunda aumentou em todo o mundo a apreensão com o desempenho da economia da China. As exportações de fevereiro caíram 18,1% em bases anualizadas e isso pode ser sinal de desaceleração mais acentuada da atividade econômica, que também foi reforçada com a redução das operações de crédito.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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