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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Teto furado

Está mais do que na hora de cair na real. A inflação em 12 meses agora estourou o teto da meta e nesses níveis tende a ficar instalada pelo menos nos próximos cinco meses

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Atualização:

Está mais do que na hora de cair na real. A inflação em 12 meses agora estourou o teto da meta (os 4,5% mais os 2 pontos porcentuais de tolerância) e nesses níveis tende a ficar instalada pelo menos nos próximos cinco meses. Em setembro e outubro, muito provavelmente rondará a altura dos 6,9%.

Se o próprio Banco Central (BC), que sempre se empenha em passar melado nas projeções sobre desempenhos ruins, já admite uma inflação de 6,4% para todo este ano, ficou mais provável o estouro do teto da meta ao final de 2014.

 Foto: Estadão

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Essa inflação bem mais alta em 12 meses deverá agora colocar em marcha mecanismos de defesa contra perdas de patrimônio, mais do que habitualmente. E este é um fator autônomo de aumento de preços.

O governo Dilma vacilou muito entre combater a inflação e combater a estagnação. Não conseguiu nem uma coisa nem outra. Agora terá de enfrentar a campanha eleitoral tendo de explicar o mau desempenho da economia, sem argumentos convincentes para isso, e não tendo outras caras a expor na vitrine que não seja a dos administradores da economia com credibilidade fortemente desgastada até mesmo dentro do PT, como Guido Mantega e Arno Augustin.

O efeito Copa pode ter concorrido para a aceleração da alta em junho, como nesta terça-feira observou a coordenadora de Pesquisas de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. Mas esse tipo de avaliação não leva muito adiante. Cada mês aparece um imponderável assim.

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Para não ir mais longe, as verdadeiras causas da inflação estão lá no Relatório da Inflação, ainda que algumas delas venham sendo propositalmente disfarçadas pelo BC, como é o caso da frouxidão na administração das contas públicas.

Entre as causas estão a disparada dos custos trabalhistas muito acima da produtividade da economia e uma demanda que, embora algo mais fraca, continua sancionando a alta. Não dá para evitar outra fonte recorrente de pressão que é o represamento dos preços administrados (combustíveis, energia elétrica e transportes urbanos). É um fator que leva os remarcadores de preços a antecipar os reajustes.

Boa pergunta consiste em saber se a desaceleração das vendas e da produção não passa a concorrer para segurar a escalada inflacionária. Às vezes o governo dá a impressão de que conta com isso. O ministro Mantega tem insistido na aposta de que o afrouxamento do consumo se deve aos estragos no poder aquisitivo provocados pela inflação e, assim, deixa implícito que a menor demanda se encarregará de conter a aceleração dos preços. E, desse ponto de vista, ele está certo.

O diabo é que os radares também apontam para o inevitável desrepresamento dos preços administrados e do câmbio, hoje usado para conter a alta dos preços dos importados. Não se sabe em que ritmo acontecerá, até mesmo porque isso também depende do resultado das eleições.

Inflação alta demais e crescimento perto de zero serão os temas da campanha eleitoral, que será curta, mas intensa. É cair na real.

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CONFIRA:

 Foto: Estadão

Para uma comparação, aí está o comportamento tanto dos preços livres quanto dos administrados. Estes detêm um peso próximo dos 25% na cesta de preços do custo de vida.

Concentração

A redução de 66,6% (em maio) para 61,4% (em junho) do índice de difusão é suficientemente significativa para afirmar que a inflação ficou muito mais concentrada. O efeito Copa (alta das passagens aéreas, dos aluguéis e das refeições fora de casa), que deverá diluir-se, não chega a pesar significativamente no orçamento do consumidor comum.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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