EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Trovoada lá fora

Nesta quarta-feira, três fatos mostraram forte deterioração da economia europeia.

PUBLICIDADE

Foto do author Celso Ming
Atualização:

(1) A Alemanha, economia mais sadia da Europa, não conseguiu comprador para todo o lote de seus títulos leiloados. Captou apenas 3,6 bilhões de euros, pouco mais da metade do volume pretendido.

PUBLICIDADE

(2) O Banco da Grécia (banco central) não só avisou que a dívida ficou insustentável, mas também que o Produto Interno Bruto (PIB) do país recuará ao menos 5,5% neste ano e outros 2,8% em 2012. E acrescentou que cresceu o risco de que a Grécia saia da área do euro.

(3) A Bélgica anunciou que ficou muito difícil garantir participação nas necessidades de capitalização do Banco Dexia, por exigir aumento proibitivo do seu endividamento.

Os três pontos merecem considerações à parte. As dificuldades que até a exemplar Alemanha passou a ter para rolar sua dívida refletem o início de séria crise de crédito. Em boa parte, essa baixa liquidez provém da necessidade que grande número de bancos passou a ter de reforçar seu capital. Para isso, passaram a despejar ativos no mercado. Não compram novos títulos, mesmo os altamente qualificados - como os da Alemanha.

Mesmo nos piores dias, não é normal autoridades de bancos centrais exagerarem em declarações alarmistas. Nesta quarta, o Banco da Grécia não fez questão de poupar tintas escuras. Pintou uma paisagem varrida por um tsunami. A simples declaração de que fica iminente a saída do euro deve provocar sangria de recursos do sistema financeiro grego. Analistas desconfiam tratar-se de teatro destinado a montar um clima para pedir mais concessões do núcleo do euro. Mas, depois de arrancar corte de 50% na dívida, o que mais o governo grego pretenderia?

Publicidade

Os obstáculos da Bélgica para capitalizar sua parte no Dexia mostram o que poderá acontecer se mais bancos forem obrigados a arranjar capital. O quase desespero com que o governo da França quer evitar a perda do triplo A na classificação de sua dívida mostra a corda bamba sobre a qual tem de se mover.

O agravamento da crise deixa poucas opções aos líderes do euro. Parece cada vez mais próximo o dia em que o governo de Berlim terá, enfim, de admitir que o Banco Central Europeu opere como emprestador de última instância aos Tesouros nacionais e que, assim, trabalhe como bombeiro - como o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), em 2008, depois da quebra do Lehman Brothers.

Em Brasília, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a advertir para a iminência de dias de convulsão e de ranger de dentes na economia global. Ele avisou nesta quarta-feira que as condições da economia global se agravaram e podem causar estrago semelhante ao de 2008, quando os mercados entraram em pânico.

O setor privado brasileiro tem dívidas em moeda estrangeira de US$ 240 bilhões. A disparada das cotações do dólar (veja no gráfico) no câmbio interno, efeito da crise externa de crédito, pode prejudicar resultados de grande número de empresas, a começar pela Petrobrás.

CONFIRA

Publicidade

A expansão do crédito começa a dar sinais de moderação. Em parte, têm a ver com a greve dos bancários.

É mais embaixo. A Confederação Nacional da Indústria passou a bater no bumbo certo. O gerente executivo de Política Econômica, Flávio Castelo Branco, vem advertindo que o principal fator da baixa competitividade da indústria não está no câmbio. É o alto custo Brasil (juros e impostos altos, baixo nível de instrução da mão de obra, logística cara demais, etc.), que quase sempre ficou mascarado pela desvalorização cambial (dólar caro).

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.