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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Um rombo maior

O saldo de novembro foi decepcionante: déficit de US$ 2,4 bilhões. O acumulado no ano, também negativo, está agora em US$ 4,2 bilhões; Nos últimos anos, a balança comercial só fechou positiva, em grande parte, graças a manobras contábeis.

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Atualização:

A balança comercial (exportações menos importações) deste ano caminha para mais um resultado negativo.

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O saldo de novembro foi decepcionante: déficit de US$ 2,4 bilhões. O acumulado no ano, também negativo, está agora em US$ 4,2 bilhões. Nos últimos anos, a balança comercial só fechou positiva, em grande parte, graças a manobras contábeis. Em 2012, o governo transferiu para o ano seguinte faturas com importações de derivados de petróleo. Em 2013, lançou "exportações fictas" pelas quais plataformas da Petrobrás são exportadas sem sair do País, geram receitas e são alugadas para a própria empresa.

Se neste dezembro não se repetirem manobras desse tipo, a balança comercial deve fechar com um rombo de US$ 4,0 bilhões a US$ 5,0 bilhões.

 Foto: Estadão

As notícias ruins poderiam parar em dezembro, se novas incertezas não apontassem no horizonte. Elas têm a ver com o início do ciclo de baixa das commodities, que hoje correspondem a cerca de 50% das receitas com exportações brasileiras. Os preços do minério de ferro, que chegaram perto dos US$ 200 por tonelada em fevereiro de 2011, hoje oscilam em torno dos US$ 70; os da soja caíram 18% em cinco meses; e, no mesmo período, os do petróleo, agora que a Petrobrás passará a ter excedentes exportáveis, desabaram dos US$ 110 por barril de 159 litros para US$ 70.

Sempre que se referiram à crise externa como fator de retração da produção brasileira, os membros da equipe econômica se limitaram a mencionar a baixa procura por produtos industrializados em consequência da paradeira externa. E, no entanto, a derrubada dos preços das matérias-primas acontece agora não por queda da procura, mas por aumento da oferta. É uma realidade nova com a qual a economia brasileira terá de conviver por um bom tempo.

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Um tombo das receitas com exportações de commodities deve também derrubar a arrecadação de impostos e de royalties, num ambiente de aperto nas contas públicas.

A fragilidade da balança comercial não decorre apenas do mau desempenho das exportações de commodities. É consequência, ao mesmo tempo, do estímulo excessivo ao consumo, que puxou pelas importações, e da política de comércio exterior equivocada tanto dos períodos Lula quanto do primeiro período Dilma. Além de não se interessar por firmar novos acordos comerciais, o governo ajudou a emperrar as negociações onde poderiam avançar, como foi o caso do Acordo Mercosul-União Européia.

O Brasil chega ao final de 2014 com larga desvantagem em relação aos seus potenciais parceiros comerciais. Enquanto estes garantiram para si próprios mercados preferenciais ao redor do mundo, o Brasil enfrenta restrições. A indústria vive o pior dos mundos: não tem competitividade nem interna (o que tende a aumentar as importações do País) nem externa (o que inibe as exportações de manufaturados).

Os resultados fracos e agora negativos da balança comercial são o principal fator de expansão do rombo das contas externas (transações correntes) que em 2014 se avizinha dos US$ 85 bilhões ou de cerca de 4% do PIB.

CONFIRA:

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 Foto: Estadão

A tabela mostra como se comportaram os principais mercados de exportação do Brasil nos 11 primeiros meses de 2014.

Falta de realismo O Banco Central é descuidado em suas projeções das contas externas. Há meses, está claro o déficit comercial. No entanto, as projeções apontam um superávit de US$ 3 bi. Para que esse número se confirme, será preciso que dezembro apresente um superávit de US$ 7,3 bi. Também é irrealista a projeção do saldo em transações correntes. Lá está cravado um déficit de US$ 80 bi. É mais provável um número perto dos US$ 85 bi.

 

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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