Na Previdência, fora aqueles protestos genéricos e pouco consequentes do tipo "se o dinheiro fosse bem administrado não haveria necessidade de reformas" ou "não há mais como sacrificar o trabalhador", já se identificam os polos em torno dos quais poderá ocorrer a negociação durante a tramitação da emenda: o tempo de contribuição máximo necessário para as mulheres terem direito ao teto do benefício (na proposta do governo esse prazo é de 49 anos, tanto para homens como mulheres). Também pode haver alguma concessão no caso das aposentadorias na agricultura familiar.
O mantra do governo é que, se houver muitas alterações em relação às bases do texto original - como a idade mínima de 65 anos, para homens e mulheres, e as regras de transição - será preciso fazer uma nova reforma logo ali à frente. Mas parte da base aliada, com apoio de algumas alas da oposição, já prepara um texto alternativo, que ataca pontos cruciais da proposta original, ao reduzir a idade mínima e simplesmente eliminar a regra de transição.
No caso da reforma trabalhista, os pontos mais nevrálgicos ainda estão difusos. Por enquanto, as centrais sindicais tentam ganhar tempo para conversar sobre o assunto. O coração da proposta do governo é a prioridade dos acordos coletivos sobre a lei em várias questões, incluindo jornada de trabalho, planos de cargos e salários. Aí a confiança é que a "flexibilização selvagem" que se observa em períodos de crise pode até facilitar a "passagem" da reforma - embora, na direção contrária, haja exatamente o temor de que a crise explicite a fragilidade dos trabalhadores no fechamento de acordos com as empresas, emperrando as mudanças.
De todo modo, as duas reformas estão aí. E vão caminhar, com maior ou menor velocidade. Calculando que, no final das contas, partes ou o todo das propostas acabem no Supremo - como tem acontecido com várias decisões do Congresso - Temer tratou de examinar currículos de candidatos à vaga no STF que sejam pró-reformas ou que pelo menos não sejam antirreformas. Saiu o nome do tucano Alexandre Moraes, ocupante da pasta da Justiça,para a substituição do ministro Teori Zavascki. Antes de qualquer coisa, pró-Temer.