Mas, sem sombra de dúvida, não há como isentar o Executivo. Acossado pelas denúncias de corrupção, especialmente depois da desastrada delação dos irmãos Batista, o governo Temer patrocinou um festival de concessões nos últimos meses, apesar de todos os sinais de perigo emitidos pelo setor público. Foram emendas parlamentares distribuídas pela ampla e instável base parlamentar, refinanciamentos de dívidas em condições generosas, verbas suplementares para municípios e assim por diante.
As metas fiscais de 2017 -- revistas e ampliadas -- foram cumpridas, dando até a impressão de que o pior tinha ficado para trás. Mas as ameaças de estouro do teto de gastos e as idas e vindas em torno da revisão da chamada "regra de ouro" puseram à mostra, de novo, as hesitações do governo Temer e retomaram as especulações sobre a saúde do setor público em 2018 e principalmente a partir de 2019. Junte-se a isso o fato que a S&P -- que muito provavelmente será acompanhada por outras agências -- vê uma economia com perspectivas de crescimento "menores de que seus pares" e incertezas políticas.
Dentro desse cenário, é até compreensível que o ministro Henrique Meirelles insista no argumento de que a salvação está nas reformas. Mais especificamente na reforma da Previdência. Não fossem os reais e fortes motivos dessa argumentação, sob o ponto de vista da economia, há também inegáveis razões políticas. Se a reforma não passar -- e as dúvidas são grandes --, a culpa é do Congresso. O ministro-candidato a candidato à Presidência terá como se explicar com os mercados e com os setores empresariais, seus grandes eleitores. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que recentemente assumiu suas pretensões na mesma direção, já tratou de desmontar essa tese, confessando-se "magoado" com as alegações do time do Planalto e ressaltando que as denúncias contra Temer também pesaram na decisão da agência.
Enquanto a caça aos culpados pelo rebaixamento do Brasil avança, cresce o temor de que aquela melhora do desempenho da economia -- colocada por economistas e analistas na "planilha" de 2018 -- não se concretize. Pelo menos não nas proporções imaginadas.