O cenário interno não parece indicar pressões inflacionárias, a ponto de justificar uma alta dos juros básicos: com uma atividade econômica ainda morna, a previsão para o IPCA deste ano está em 3,94%, abaixo do centro da meta fixada para o ano, de 4,25%, com tolerância de 1,25 ponto para cima e para baixo. O mesmo se pode dizer do cenário externo, onde vão se desfazendo as incertezas sobre o desempenho da economia americana e suas relações com a China -- e, por tabela, sobre o impacto no fluxo de dinheiro para os países emergentes.
O que falta, então, para carimbar essas previsões razoavelmente tranquilizadoras e inclusive alimentar expectativas de nova queda da Selic, para 6% ao ano? Ela, sempre ela, a reforma da Previdência, que finalmente está prestes a assumir uma "cara" própria, e iniciar seu trajeto no Congresso.
Nos mercados, a torcida é para que o governo supere suas divergências internas e caminhe com rapidez na direção de uma reforma próxima ao texto que está saindo do Ministério da Economia e foi publicado pelo Estadão. Uma reforma mais ampla e mais dura do que a patrocinada pelo governo Temer, que enfrentou forte resistência no Congresso e acabou empacando logo no início da tramitação.
Claro que ainda vai rolar muito debate e muita pressão dos setores mais atingidos. Claro que o próprio Bolsonaro e depois os parlamentares porão suas digitais na proposta -- especialmente em relação a alguns pontos mais controvertidos, como a equiparação da idade mínima para as aposentadorias de homens e mulheres, em 65 anos, e a limitação em R$ 500 para os benefícios a idosos de baixa renda. O que os mercados esperam, contudo, é que a reforma enfim vá em frente. E o resultado das negociações não seja seu esvaziamento.