No ranking dos setores com pior avaliação, o combate ao desemprego vem pouco abaixo da política de impostos, juros e saúde. E nem poderia ser de outra forma, tendo em vista o fato de que, para os não especialistas, crise econômica quer dizer, antes de mais nada, desemprego. A ironia é antiga, mas ainda vale, com alguma atualização -- adaptada, por exemplo, ao recente debate em torno da questão "o Brasil caiu ou não numa depressão". Recessão é quando seu vizinho perdeu o emprego, depressão é quando você mesmo perdeu o emprego.
As notícias mais recentes sobre o desempenho do mercado de trabalho confirmam que, ironias à parte, o problema é cada vez mais sério. E dão gás às discussões sobre a necessidade de o governo adotar logo algumas medidas de estímulo ao consumo. Demorou, mas a equipe econômica parece finalmente sensível a essa "emergência", como mostra a reportagem publicada no Estadão desta sexta-feira, que antecipa uma agenda pró-crescimento -- incluindo, por exemplo, algumas providências para finalmente levar a queda do juro básico à ponta dos empréstimos.
Embora sem fixar prazos e cuidando de uma pauta que não está na sua órbita, o próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou a liberação de R$ 100 bilhões em depósitos compulsórios dos bancos, um quarto do estoque atual, para turbinar o crédito -- como se poderia esperar, o próprio Banco Central foi bem mais cauteloso tanto em datas como em cálculos de valores.
Segundo a PNAD Contínua, divulgada nesta sexta-feira pelo IBGE, o desemprego mantém a trajetória de queda lentíssima, incompatível com as necessidades do País. A taxa de desemprego caiu para 12,3% no trimestre encerrado em maio, em comparação com 12,4% nos três meses imediatamente anteriores, mas ainda assim corresponde a quase 13 milhões de pessoas sem ocupação em todo o País.
Esse contingente mais do que dobra, quando se considera a mão de obra subutilizada, que soma desempregados, empregados que poderiam trabalhar um maior número de horas e também quem não tem ânimo para buscar uma vaga, os chamados desalentados. São, ao todo, 28,5 milhões de pessoas, um recorde desde o início da pesquisa, em 2012, e uma fonte de pressão social.
Completando esse retrato da crise brasileira, a criação de empregos com carteira assinada, segundo o Caged, teve o pior maio desde 2016: foram apenas 32,1 mil novos postos no mês, concentrados principalmente no setor agrícola, e 351 mil de janeiro a maio, cerca de 30 mil abaixo do mesmo período do ano passado.
O trajeto que se imaginava para o mercado de trabalho, quando começou a retomada, não se concretizou: primeiro viriam os empregos informais, depois os formais, consolidando o ciclo de recuperação. O circuito, porém, foi interrompido, como foi a própria retomada. Fica tudo em compasso de espera.