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Além da economia

Nem precisa de Trump

Quando todos temiam os efeitos desastrosos da eleição de Donald Trump sobre o mercado brasileiro, eis que surge a tempestade perfeita. Armada totalmente dentro do Brasil, sem qualquer influência de alguma massa polar vinda de fora. Foi uma semana daquelas no Planalto Central. O caso do "apartamento da Barra", que derrubou o ministro Geddel Vieira Lima, integrante do círculo mais próximo do presidente Michel Temer, uniu-se às tentativas do Congresso de desidratar - ou melhor, secar -- o pacote de medidas anticorrupção com uma anistia aos crimes de caixa 2. De quebra, o Senado liberou aos parentes de políticos a possibilidade de repatriação do dinheiro enviado ilegalmente ao exterior. Fatos que põem a nu a extrema resistência das más práticas na política brasileira, mesmo depois de mensalões, petrolões, Lava-Jatos etc.

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Por Cida Damasco
Atualização:

Não houve nenhum terremoto no mercado. Mas o dólar subiu e os juros futuros seguiram a mesma direção. Mais que esse vaivém, contudo, rompeu-se aquela ilusão de que agora o governo estava em condições de concentrar seu foco totalmente na crise econômica - trabalhando pela aprovação da PEC dos gastos no Senado, pela administração da crise dos Estados, pelo fechamento da proposta da reforma da Previdência e assim por diante.

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Se Temer imaginou  que manter Geddel seria um jeito esperto de não atiçar as bases no Congresso, ficou claro que errou redondamente, como se dizia em outros tempos. O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero enredou o ministro Eliseu Padilha e o próprio Temer nas denúncias de tráfico de influência, Geddel acabou caindo, mas o estrago já estava feito. Temer passou a imagem de indecisão e vulnerabilidade. A própria intenção de vetar a anistia ao caixa 2, que ele fez divulgar, passou menos como um reconhecimento do escândalo que a medida representa e mais como uma tentativa de se safar da crise.E, para transformar a tempestade perfeita em ciclone, vem aía delação da Odebrecht.

Nesse clima, passou ao largo até a edição da MP das concessões, sucessivamente adiada e considerada uma das pouquíssimas iniciativas que tem o poder de pelo menos abreviar a recessão.

Precisa de mais para complicar o cenário? O fator política interna volta à cena - e com força total - para influenciar os rumos da economia. E, salvo alguma pirueta de Temer, essa volta não promete boas novas para um governo que é definido pelo próprio parceiro FHC como uma pinguela até 2018. Por enquanto, portanto, o efeito Temer está ofuscando o efeito Trump.

 

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