O desempenho das contas externas em 2016, divulgado nesta terça-feira, 24, também guarda uma boa diferença em relação às expectativas do mercado um ano atrás. O déficit em conta corrente, que junta o movimento da balança comercial com o da balança de serviços, ficou em US$ 23,5 bilhões, frente a uma previsão de US$ 38,5 bilhões, que constava do relatório Focus do Banco Central, na sua edição de encerramento de 2015. Na mesma linha, a balança comercial terminou 2016 com um superávit de US$ 45 bilhões, frente à expectativa de US$ 35 bilhões um ano antes.
À primeira vista, trata-se de um desempenho bastante favorável, em meio a tanta notícia ruim sobre a economia brasileira, principalmente PIB em queda persistente, desemprego em alta e contas públicas desarrumadas. O déficit em conta corrente de 2006 foi o menor em nove anos. Mas, se os números são animadores - afinal, tudo o que o Brasil não precisava agora era de uma crise externa -- é fundamental levar em conta que eles resultam de uma situação no mínimo desconfortável.
O portentoso superávit comercial do Brasil no último ano tem origem basicamente na recessão e não numa atuação mais agressiva no comércio internacional, via aumento de produtividade da economia brasileira, como seria desejável. Afinal, ele não está escorado numa forte reação das exportações, o que até faria sentido, tendo em vista a anemia do mercado interno. Trata-se de uma consequência direta de uma queda de cerca de 20% na média diária de importações. Recessão na veia.
É mais ou menos como o colesterol bom e ruim. As taxas gerais até que estão dentro dos parâmetros, mas examinadas com mais atenção, ainda exigem medicação potente para corrigir desvios.