A prática está mostrando que o trabalho é duríssimo. Trata-se de atacar o chamado spread bancário, aquela expressão que no "dialeto" do setor financeiro define a diferença entre o que o banco paga ao investidor para remunerar as aplicações dos seus recursos e o que cobra dos seus clientes. E é exatamente o comportamento do spread que explica a permanência nas alturas dos juros da vida real. Calcula-se que o spread esteja em 33,3 pontos nas operações de crédito com recursos livres.
Os candidatos à Presidência da República e seus assessores econômicos, é claro, têm consciência de que a questão dos juros é crucial e, quando a campanha esquentar, não dará para escapar dela. Aqueles mais próximos ao governo não poderão se limitar a vender para os eleitores a conquista da redução da Selic. Terão de discutir também como essa conquista vai chegar ao público em geral -- consumidores, empreendedores e pequenos empresários.
Na outra ponta, os mais críticos também não poderão simplesmente surfar no discurso mais populista, contra a "ganância dos bancos" e/ou a "cumplicidade do governo". Terão de dar respostas mais "criativas" ao eleitorado. E é aí que as coisas se complicam. Não há alternativa clara para mudar esse quadro no curto prazo. A proposta incluída no programa do PT -- uma tributação progressiva sobre os bancos em correlação direta com os spreads --, por exemplo, não foi bem recebida nos mercados. Há praticamente um consenso de que a concentração bancária é a grande responsável por manter os spreads elevados. Apesar dos argumentos em torno de "falta de garantia" para os credores, que justificaria, portanto, a adoção em larga escala do cadastro positivo.
Segundo relatório do próprio Banco Central, mais de 80% dos ativos estão nas mãos de Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Itaú, Bradesco e Santander, a maior proporção entre todos os países emergentes. No crédito pessoal, as mesmas instituições dominam mais de 75% das operações. A experiência no governo Dilma já comprovou que derrubar os juros "na marra" não funciona. Mas a persistência desse descompasso entre os juros básicos e os juros na ponta é um entrave para a economia sair do atual estado de letargia.