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Além da economia

Quem manda na economia

Aconteceu mais cedo do que se esperava. O economista Paulo Guedes, guru de Jair Bolsonaro (PSL), fugiu o quanto pôde de debates e sabatinas e, quando resolveu abrir a boca, tocou em temas intocáveis, como a execrada volta da CPMF e a injusta fixação de uma alíquota única de Imposto de Renda. Sob forte ataque nas campanhas de outros candidatos e nos círculos econômicos, acabou enquadrado pelo próprio Bolsonaro.

Por Cida Damasco
Atualização:

Para quem via Paulo Guedes como o fiador da conversão de Bolsonaro ao liberalismo, e até o presidente de fato na hipótese de vitória do candidato, esse atrito pode até ter sido uma surpresa. Mas, convenhamos, trata-se apenas da confirmação do óbvio: quem manda é o candidato e, mais ainda, o presidente. Estranho alguém imaginar o contrário, ou seja, que o candidato/presidente seja submisso ao economista.

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Que a "cola" rabiscada na mão, as gaguejadas e as frases feitas de Bolsonaro nas entrevistas escancaram sua pouca familiaridade com os temas econômicos -- para dizer o mínimo --, não há sombra de dúvida. Mas isso não significa que ele ignore o peso junto ao eleitorado de qualquer aceno de aumento de impostos. Especialmente do retorno da CPMF, aquelas quatro letrinhas que viraram símbolo da rejeição a mais tributos e despertam ojeriza geral.

É verdade que o embate de Bolsonaro com seu guru econômico tem suas particularidades. Com todas as desconfianças que cercam seu nome, sua trajetória, suas convicções políticas e seu preparo para a Presidência da República, desfilar em companhia de um economista tido como liberal tem um sentido especial -- principalmente diante dos mercados, cujos representantes só pensam naquilo, ou seja, nas promessas de que o candidato não irá se desviar da trilha liberal. Mas, guardadas as devidas proporções, a história recente mostra que essas demonstrações não são novidade.

Lula, por exemplo, desembarcou em Brasília escoltado pela dupla Antonio Palocci, o médico sanitarista que durante a campanha já havia conquistado a confiança dos setores empresariais, na Fazenda, e o bem sucedido executivo financeiro Henrique Meirelles, no Banco Central. Os dois personificavam os compromissos expressos na Carta aos Brasileiros, que teve o objetivo central de afastar os temores do mercado em relação a um risco de ruptura com o PT no poder.

Dilma, no primeiro ato, manteve o petista histórico Guido Mantega na Fazenda e fez um governo considerado mais "ideológico" do que o do primeiro mandato de Lula. Pressionada pelo agravamento do quadro econômico, no entanto, ela iniciou o segundo mandato com um ministro da Fazenda ao gosto dos mercados, Joaquim Levy. Mas o próprio ministro pediu para sair, quando se certificou da falta de espaço dentro do governo.

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Não há hipótese de um ministro se sobrepor ao chefe. Além disso, mesmo que ele agrade aos mercados e até mesmo aos círculos palacianos, também não há garantia de que vá emplacar seus programas. Gurus econômicos sem capacidade de negociação e/ou sem apoio de um articulador político tendem a naufragar nas relações com o Congresso. E o Congresso, como se sabe, às vezes manda no próprio presidente.

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