Por que há tão poucas megaempresas na América Latina

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Por Clayton Netz
Atualização:

A América Latina concentra 10% da população e 5% do PIB mundial. No entanto, entre as 2 mil maiores empresas globais listadas pela revista Forbes, a participação da região é de apenas 2,5%, exatas 43 companhias, lideradas pela Petrobrás. Intrigado, o professor Paulo Feldman, da Faculdade de Economia e Administração da USP, com passagens por empresas como a Eletropaulo, Microsoft e Ernst & Young, resolveu estudar esse fenômeno. O resultado do trabalho é o livro Empresas Latino Americanas: oportunidades e ameaças no mundo global, lançado no início de março pela editora Atlas.

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Feldman levanta algumas hipóteses para explicar essa pífia participação das empresas da AL no ranking global. Entre elas, figuram os vícios de gestão, a baixa profissionalização e a pouca disposição de cooperar de parte dos empresários ("o concorrente é visto como inimigo", diz Feldman). Mas o principal motivo parece estar na origem das empresas, quase todas vinculadas a setores antigos da economia, como petróleo, alimentação e siderurgia, entre outros. "Não há empresas de setores de ponta, como o farmacêutico ou o de tecnologia da informação", afirma. "Em sua quase totalidade são negócios do século 19." A exceção à regra entre as grandalhonas latino-americanas fica por conta da Embraer, líder numa área de alta tecnologia como a indústria aeronáutica.

A má notícia, segundo Feldman, é que, a esta altura do campeonato, dificilmente haverá uma multiplicação de megaempresas no continente. "Não é nossa vocação formar grandes companhias", diz. A boa notícia, é que há, sim, saídas para a prosperidade e para a criação de riquezas mesmo sem o gigantismo. Contra os Golias corporativos, Feldman preconiza a adoção do modelo italiano, ancorado nos pequenos negócios, baseado na multiplicação de Davis.

Para isso, acredita, é preciso que os empreendedores brasileiros deixem o individualismo de lado e aprendam a trabalhar em parceria. "Os italianos estão entre os maiores produtores de roupas e de móveis do mundo e a grande base são as micro e pequena empresas", afirma Feldman. "Eles se unem para investir em tecnologia, marca e criação de canais de comercialização." Para ele, o modelo italiano é compatível com a entrada do País num negócio típico do século 21, como a biotecnologia. A biodiversidade brasileira é um grande manancial para novos empreendimentos, que não precisam alcançar um grande porte para fazer a diferença. "A Amazônia é o celeiro", afirma.

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