O famoso trio de investidores Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, elegeu um de seus "cavalos" no novo mundo digital, segmento em que o próprio fundo reconhece que está atrasado, até mesmo por conta de sua tradicional preferência por setores mais tradicionais da velha economia. Com sucesso na carteira como a do império de bebidas que construiu com a AB InBev, que teve início com a compra da cervejaria Brahma em 1989, agora o trio colocou mais R$ 2 bilhões nas Lojas Americanas, onde já possui participação há quase quatro décadas.
A injeção de capital ocorreu em meio à oferta subsequente (follow on) da varejista, que levantou R$ 7,9 bilhões no total, recursos que serão utilizados para capitalizar em R$ 3 bilhões a B2W, sua controlada e dona do Submarino e 100% dedicada ao e-commerce. O restante será destinado para o aplicativo de pagamentos Ame Digital, além de expansão, tecnologia, logística e distribuição, em iniciativas de integração entre negócios online e offline (O2O) e, ainda, novos negócios.
Em abril, em uma das lives que ocorreram nesses quatro meses de pandemia do covid-19, Lemann disse que a 3G, conhecida pela sua atuação em corte de custos, estava, de fato, atrasada nos investimentos em negócios digitais, mas que ele tinha negócios no portfólio que estavam se modernizando. E citou naquele momento exatamente a Lojas Americanas e B2W, que são investimentos de Lemann, Sicupira e Telles, mas não por meio do 3G. "Não sou mais um dinossauro apavorado, mas um dinossauro se mexendo", disse o bilionário em um evento no ano passado. O trio por meio de diversos veículos de investimento, possui cerca de 40% do capital da Lojas Americanas.
A companhia, que por muito tempo foi deixada de lado por investidores na bolsa, tem sido uma das apostas em meio à pandemia. A ação preferencial, mais líquida na bolsa, acumula alta de mais de 35% em 2020. Na oferta de ações precificada ontem a demanda superou em cinco vezes o volume ofertado, em uma das maiores ofertas de ações na B3 neste ano.
A combinação de lojas físicas e e-commerce - equação de Lojas Americanas e B2W e fórmula mágica que explica parte do sucesso avassalador da Magazine Luiza, queridinha no mercado nos últimos anos - é a aposta para aproveitar a expectativa sobre a mudança do consumo mesmo depois que passada a pandemia, o que vai acelerar o crescimento da companhia.
A gestora do trio, a 3G tem no portfólio, por sua vez, a Restaurant Brands (Burguer King e Popeye) e a Kraft Heinz, gigante do setor alimentício e que só trouxe dor de cabeça ao trio. "Com a Kraft foi um sonho grande, que não andou com a gente".
Hoje o trio também investe em três empresas chamadas de "unicórnios": Stone, Movile e BREX.
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