Jean Sigrist, presidente do Neon/Divulgação
A distribuição por meio digital do auxilio emergencial, criado pelo governo para fazer frente às necessidades dos mais diretamente afetados pela pandemia da covid-19, abriu a cena para a disputa pelo público de baixa renda, parte dele até então relegado e fora do sistema bancário. Disparado na frente está obviamente a Caixa Econômica Federal, que como operadora única do auxílio, em poucos meses colocou em pé um sistema de pagamento que virou um novo negócio com pretensão de chegar à bolsa no ano que vem.
Mas esse é um nicho no qual outros bancos digitais estão de olho. O Neon Pagamentos, que acaba de levantar R$ 1,6 bilhão, se aproxima das classes C e D e entrou no universo dos microempreendedores (MEI) com ofertas de serviços e produtos. Em um ano, já passam pela sua plataforma 25% dos 9 milhões de MEIs formais do País.
Mesmo com uma plataforma de 9,5 milhões de clientes, distante dos mais de 35 milhões que a Caixa amealhou por meio do auxílio, Jean Sigrist, presidente do Neon Pagamentos aposta que há sol para todos.
"Esse movimento (da Caixa) reforça a tendência que já vínhamos observando na Neon, de individualização de contas nas classes C e D. O uso de tecnologia permite a redução de custos e ganhos de eficiência no setor bancário", diz Sigrist em conversa com o Broadcast. O que chama de individualização de contas é o movimento, comum nas famílias de menor renda, de migração de uma conta compartilhada para uma própria, graças à redução de custos e facilidades da conta digital.
"Estamos falando de um mercado potencial de mais de 100 milhões de pessoas. Acreditamos que tem bastante espaço para crescer, sobretudo com a oferta de bons serviços. Só no segmento de MEIs, que é um mercado que olhamos com bastante atenção, temos mais de 10 milhões de pessoas", conta.
Há um ano, o Neon adquiriu o MEI Fácil, e ganhou uma participação de 25% nesse segmento. "Esse é um cliente que tem dificuldade importante nos serviços bancários, que está quase no limbo", observa Sigrist. Há 15 dias, o banco lançou uma carteira de serviços bancários completos a esse grupo, o que completa a plataforma que auxilia no cadastramento, retirada do CNPJ e na gestão fiscal do microempreendedor.
Sligts diz que a proposta do Neon é ser simples. "A Neon Pagamento não se propõe a ser um novo banco, com oferta gigantesca de serviços", afirma. Mas por outro lado, "a oferta de um único serviço não funciona", acrescenta.
O anuncio em julho, no meio da pandemia, da aquisição da corretora mais antiga da Bolsa, a Magliano, veio nesse sentido. "Temos atuação focada em classe C expandida, que pega um bom pedaço de classe D e tangencia um público que não é grande investidor, e temos ambição de ajudar esse cliente a ter caminho", afirma.
As aquisições do Neon não terminam por aqui. "Nosso time de M&A (fusões e aquisições) está olhando para oportunidades em tecnologia, que podem impactar nosso serviço, do ponto de vista de vazão aos nossos processos, e o universo do crédito e investimentos", contou, sem dar detalhes.