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Bastidores do mundo dos negócios

Apesar de denúncia sobre uso do kit covid, grandes investidores dão voto de confiança à Hapvida

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Por Cristiane Barbieri (Broadcast) e Irany Tereza
Atualização:
IPO da Hapvida, que se tornou uma grande consolidadora no mercado de saúde  Foto: Samuel Kim.

Apesar de a Hapvida ser alvo de denúncias por imposição ao uso do kit covid (medicamentos sem eficácia contra o coronavírus) a pacientes contaminados, grandes gestores ainda não estão dispostos a abrir mão de ações da operadora de plano de saúde - a primeira de capital aberto a ser envolvida no escândalo. Em tempos de muita propaganda em torno das melhores práticas ESG (sigla em inglês para iniciativas ligadas a meio ambiente, sociais e governança) também no mundo dos investimentos, os profissionais que cuidam do dinheiro dos investidores passaram a ser questionados se abririam mão das ações da Hapvida, investigada pela Agência Nacional de Saúde (ANS) e pelo Ministério Público, entre outros órgãos de controle. Em linha com o que pensa o mercado financeiro mais tradicional, a resposta foi não, pelo menos por enquanto.

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Para um gestor brasileiro com ações da Hapvida em seu portfólio, é preciso apurar o que aconteceu, antes de qualquer decisão. Desde a pressão com que todos trabalhavam no auge da pandemia à história que os fundadores têm como médicos, bem como a proposta de criação de um plano de saúde popular e inclusivo, tudo deve ser considerado.

Inclusive o fato de a Hapvida começar a ser citado na CPI da Covid, que tem prazo para acabar mas apresentará o relatório até novembro. Bem como do vídeo de julho de 2020, usado pelo Ministério da Saúde para mostrar o tratamento da Hapvida com o kit covid para incentivar seu uso. À época, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já havia suspendido estudos com cloroquina e outros remédios, por serem ineficazes.

O fato é que a gigante do setor de saúde, que faturou R$ 8,5 bilhões no ano passado, tem se posicionado como uma consolidadora do mercado. Banqueiros de investimento têm chamado as empresas de saúde de "máquinas de M&A (fusões e aquisições, da sigla em inglês)".

Entre as compras recentes da Hapvida, estão o Grupo Promed, por R$ 1,5 bilhão e o Centro Clínico Gaúcho, por R$ 1 bilhão. Além, é claro, da maior operação do ano na área - a aquisição da NotreDame Intermédica. O negócio deve criar uma empresa com valor de mercado de mais de R$ 100 bilhões, 8,3 milhões de pessoas pagando pelos planos e 84 hospitais. Para dar suporte às aquisições, a Hapvida recorreu ao mercado e, em emissões recentes, levantou quase R$ 5 bilhões.

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Queda das ações

Nos primeiros dias de outubro, porém, o valor das ações da Hapvida caíram mais de 7%, enquanto o Ibovespa permaneceu estável (-0,38%). No período de 30 dias encerrado ontem, a queda foi de 16,90%, para 6,20% do índice. O motivo não teve a ver com qualquer denúncia, mas sim com o fato de o negócio com a NotreDame enfrentar solavancos impostos pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), após a Superintendência-Geral do órgão declarar que o processo de fusão é "complexo", e decidiu dedicar mais tempo à análise da operação.

Tudo posto, o mercado espera o andar das apurações - mas não perder dinheiro. Para o gestor que tem uma fatia da Hapvida, é preciso considerar para a tomada de decisão de saída a questão fiduciária com os investidores: vender ações, neste momento, representaria perdas consideráveis a quem colocou seus recursos em suas mãos.

Além disso, ele diz ser mais correto e eficiente ajudar a empresa investida a melhorar em suas iniciativas ligadas a ESG, do que puni-la com a retirada do capital. Bem como os milhões de usuários dos planos e os seus funcionários.

Procurada para falar sobre o tema, a Hapvida disse ter sido suficiente para esclarecer o mercado o comunicado publicado na segunda-feira, no qual dizia que a recomendação ao kit covid havia sido feito apenas no início da pandemia, quando não havia unanimidade dos pesquisadores em torno do tema.

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Esta nota foi publicada no Broadcast+ no dia 06/10/2021 às 17h29.

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