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Bastidores do mundo dos negócios

APM Terminals quer aumentar operação em Santos e mira terminal de contêiner em Saboó

Por Cristian Favaro
Atualização:
 Foto: Codesp/Divulgação

A APM Terminals, subsidiária da dinamarquesa Maersk, quer aumentar sua operação no Porto de Santos e para isso tem acompanhando de perto as oportunidades envolvendo um novo terminal de contêineres em Saboó. Os planos foram apontados por Leo Huisman, CEO da APM Terminals América Latina, em entrevista exclusiva ao Broadcast.

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O projeto para o novo terminal está inserido no Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ) do Porto de Santos. A área a ser ofertada ao mercado fica ao lado das instalações da Brasil Terminal Portuário (BTP), que é sócia da APM. O grupo planeja pegar carona nos planos ambiciosos para o Porto de Santos e vislumbra criar um hub capaz de, no futuro, receber embarcações cada vez maiores.

"Há um desejo de aumentar nossas operações em Santos. Acreditamos que é uma necessidade, mas estamos em um momento difícil", disse. Ele explicou que os avanços nas estruturas portuárias dependem de tecnologia internacional e que, por causa do Real desvalorizado, os projetos acabam se tornando muito mais complexos.

Hoje, a estrutura da BTP opera na capacidade máxima em Santos. "Todos esperam que a área de Saboó será leiloada. Vamos ver se podemos e devemos participar". Os estudos para a área ainda estão em uma fase embrionária na autoridade portuária (SPA) e não há um calendário para o projeto.

"Daqui uns cinco ou 10 anos, Santos vai ter condições de receber navios maiores. Quando essas embarcações grandes chegam, elas não param em todos os portos. Elas precisam de hubs para distribuir a carga", disse. Um hub é um porto concentrador de cargas que permite que grandes porta-contêineres sejam carregados e descarregados em uma única parada, melhorando os custos e eficiência logística.

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Hoje, o terminal da BTP tem capacidade de 1,7 milhão de TEUs (Unidade equivalente a 20 pés) por ano. Para receber as embarcações maiores, a capacidade terá de chegar perto de 3 milhões de TEUs. "Não é para amanhã. Não é para o ano que vem, mas sabemos que gostaríamos de melhorar os serviços para embarcações maiores", disse. De janeiro a agosto, a BTP movimentou 689.089 contêineres, alta de 13% na comparação anual. O ganho veio ante o bom momento para as exportações, que avançaram 38% no período, sustentadas por commodities e proteína animal.

O Porto de Santos comporta atualmente embarcações de até 340 metros. A Santos Port Authority (SPA, antiga Codesp) estuda liberar nos próximos meses o fluxo de embarcações com 366 metros. O projeto passa por avaliação para a homologação por parte da Marinha. O próprio porto vê a aprovação como um passo importante rumo à consolidação como um hub.

A entrada da APM na disputa por Saboó, entretanto, ainda é cheia de incertezas. Em leilão recente de dois terminais de celulose, a Suzano acabou ficando de fora por causa de uma regra do edital para evitar a concentração de mais de 40% da movimentação e armazenagem de celulose com um único operador. Com mais um terminal, a Suzano poderia responder por 70% de participação. "A questão é: onde será feita a distribuição principal no Brasil? Idealmente se faz em um grande mercado como Santos. Mas se Santos não puder oferecer a estrutura, as embarcações vão para outros lugares no País".

O grupo monitora de perto o mercado brasileiro. Huisman explicou que enquanto as movimentações de contêiner devem recuar em até 30% na América Latina, sobretudo em países como Panamá e Argentina, o Brasil vai conseguir entregar um crescimento de até 4% neste ano. "Sabíamos que o impacto seria grande. Muitas economias se fecharam. O que nos pegou um pouco de surpresa foram as infecções por covid-19 significativamente maiores na América Latina", disse.

Enquanto a empresa registrou uma queda na casa de 20% no volume no segundo trimestre na região, hoje a operação não consegue atender toda a demanda por transporte. Entre os motores puxando essa procura está o mercado chinês. "No momento estamos tendo mais demanda do que a gente consegue entregar, sim. Porque não é possível dividir igualmente a demanda durante todo o ano. Era previsível que isso iria acontecer, que viria uma grande procura. Vimos isso em outras crises".

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No Brasil, a sustentação veio do gigantismo do agronegócio, cujas exportações de frutas e proteína animal mais do que compensaram a derrocada nas importações, sobretudo do setor automobilístico.

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Investimentos

Apesar do olhar atento ao País, a APM não tem planos para novos projetos e quer ampliar o portfólio já existente. Além da parceria com a BTP, a empresa também é arrendatária de terminais em Pecém (CE), com foco na exportação de frutas, e Itajaí (SC), além de uma participação em Itapoá (SC).

Há alguns anos, a APM chegou a sondar terminais em Manaus e em Suape (PE). Os projetos acabaram perdendo força. "Em Suape, o mercado ainda é pequeno para ter dois terminais. Se tiver algum leilão vamos avaliar, claro. Mas tem de fazer sentido em termos de boa demanda para sustentar o projeto. Desenvolver um greenfield demanda muito recurso", explicou.

O executivo destacou ainda o espaço para crescimento na cabotagem (transporte de cargas entre os portos do País) e elogiou a postura do governo para desenvolver o setor portuário por meio de leilões e privatizações. "O governo e o Ministério da Infraestrutura estão comprometidos em modernizar o sistema. Eles merecem crédito por isso porque não é uma tarefa fácil no Brasil", disse, ponderando que ainda há muito a ser feito para que o País consiga usar todo o seu potencial logístico.

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