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Bastidores do mundo dos negócios

Bancos de investimento retomam, em ritmo acelerado, ofertas de ações

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Por Fernanda Guimarães
Atualização:

Dois meses e meio depois de duas dezenas de aberturas de capital terem voltado para a gaveta de forma compulsória diante da pandemia da covid-19, os bancos de investimento voltaram a testar o apetite do mercado para ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês), ou seja, muito antes do que o prognóstico inicial. A retomada das tratativas das ofertas começa de forma seletiva, mas a percepção é de o Ibovespa acima dos 90 mil pontos e o grande fluxo de liquidez no mercado abrirão uma janela para a estreia de mais empresas na Bolsa.

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Antes que os IPOs cheguem, as ofertas subsequentes (follow ons) já começam a funcionar como abre alas para outras operações. Na semana passada, a varejista Centauro levantou R$ 900 milhões, com uma demanda típica de 'bull market': a demanda dos investidores superou em sete vezes a oferta, conforme fontes. A Via Varejo, que precificou sua oferta ontem também anotou forte interesse de investidores em sua oferta que somou R$4,4 bilhões, dinheiro que trará conforto ao seu caixa. A demanda em sua oferta bade chegou a superarem cinco vezes o volume de ações ofertadas, apurou o Broadcast. Os bancos devem anunciar outros nomes nas próximas semanas, ao menos é essa a expectativa.

O sócio e responsável pela área de renda variável do BTG Pactual, Fabio Nazari, afirma que o mercado viu o cenário se deteriorar de forma muito rápida por conta da pandemia, mas que o processo de recuperação demonstra caminhar de volta com o mesmo ritmo, tendo em vista o que já vem sendo observado nos mercados internacionais. "A América Latina está antecipando esse processo, olhando o mercado estrangeiro", cita. Segundo ele, com o mercado em alta, empresas já começaram a retomar seus planos, com muitas querendo aproveitar a liquidez global para fazer caixa. "Os investidores não estão olhando neste momento para o lucro de 2020, mas para o de 2021, e atento às lições aprendidas com a covid-19, com as mudanças que as empresas fizeram em seus negócios", destaca o executivo. Segundo ele, o movimento deverá ser intenso, considerando follow ons e IPOs, entre julho e outubro.

O sócio da área de mercado de capitais do escritório Mattos Filho, Jean Marcel Arakawa, destaca que, o telefone voltou a tocar há cerca de duas semanas e que, desde então, as ofertas começaram a sair da gaveta. Das operações que devem ir para a rua nos próximos meses, afirma o especialista, há três grupos. O primeiro das empresas que já estavam na fila e tiveram os planos frustrados com a pandemia, aquelas que miravam o segundo semestre para uma captação e que seguem com os planos e, por fim, o grupo das empresas já listadas, que devem recorrer ao mercado para fortalecer o caixa.

No momento, os bancos conversam com investidores, sobre os nomes de empresas que podem ter mais sucesso na hora de lançarem suas ações neste momento. O tom de otimismo começou a ser dado na semana passada nos Estados Unidos, com o maior IPO de 2020 por lá feito neste ano e o mais importante: ainda na pandemia. A Warner Music movimentou US$ 1,9 bilhão em sua oferta.

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"Pode acontecer uma boa repercussão da retomada nos EUA e talvez tenhamos uma antecipação de transações indo ao mercado mais cedo do que imaginávamos, mas certamente não teremos a euforia de antes, já que o mercado acredita em uma redução do PIB entre 5% e 7% no ano", destacou uma fonte de um banco de investimento estrangeiro.

Outra questão que começará a impulsionar os mercados é a ampla liquidez externa, diante dos inúmeros pacotes fiscais e de estímulos dos Bancos Centrais, que irrigam o mundo com mais recursos. "Vem uma tempestade de dinheiro para mercados emergentes", disse uma fonte.

Neste momento já estão em reuniões iniciais - ainda as virtuais, por meio de videoconferências - com os investidores, o Grupo Soma, de varejo de moda, dona de marcas como a Farm e a infantil Fábula, e a fabricante de ouro Aura Minerals, que possui sede no Canadá, onde já tem capital aberto, e fará na B3 a emissão de BDRs, que são papéis lastreados. "A Aura produz ouro, então, de fato, seu contexto deve estar até melhor do que antes da covid. A oferta da Aura deverá ocorrer ainda neste mês e será com esforços restritos - ou seja, destinado a um pequeno grupo de investidores qualificados. Será o primeiro IPO com esforços restritos na B3, modelo que já se popularizou entre as ofertas subsequentes.

Outra que vai tirar os planos do papel é a Ambipar. E não é por menos: a pegada da sustentabilidade e do ambientalmente correto ganhou tração entre os investidores na pandemia. Mês passado a rede de estacionamentos Estapar fez sua estreia na B3, primeira oferta de ações em meio à pandemia.

"A informação é de que o restante da fila de ofertas de março voltará toda, como Quero-Quero e Petz", disse uma gestor. Isso significa de que mesmo as empresas de fundos de private equity (que são os que compram participações em empresas) devem fazer os IPOs de empresas investidas, o que costuma acontecer em momentos de alta da Bolsa. A Quero-Quero é uma varejista de materiais de construção do fundo Advent e a varejista de produtos de animais de estimação Petz do norte-americano Warburg Pincus.

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Um gestor destaca que, apesar desse otimismo, o movimento não tem relação com o contexto Brasil. "Esse é um efeito de muita liquidez global e juro zero?, explica. Ele lembra que nos Estados Unidos a emissão de ações neste ano acaba de bater recorde mensal em maio, com US$ 69 bilhões, ante US$ 63 bilhões em dezembro de 2019.

Do lado negativo, mesmo diante de centenas de bilhões de dólares circulando no mercado, existe ainda pouca visibilidade dos impactos e resultados futuros das empresas, assim como o ritmo de recuperação das economias. "E se houver uma segunda onda do vírus? Precificar IPOs será uma queda de braço interessante", acredita.

Essa matéria foi publicada no Broadcast no dia 09/06/2020.

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