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Bastidores do mundo dos negócios

Bancos exigem da Latam listagem na B3 para acesso a pacote de socorro

A Latam terá de se listar na Bolsa brasileira, por meio da emissão de títulos de empresas estrangeiras, os chamados BDRs, se quiser ter acesso ao socorro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e bancos privados, apurou o Estadão/Broadcast. Essa é uma das condições impostas nos ofícios que foram enviados hoje às empresas de aviação, incluindo ainda Gol e Azul, e pode fazer com que a companhia fique fora da ajuda financeira estruturada diante da pandemia. Fruto da fusão entre Lan e TAM há dez anos, a Latam é a única que não está na B3, uma vez tem sede no Chile, onde possui o capital aberto. No socorro, cada empresa poderá receber cerca de R$ 2 bilhões.

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Foto do author Fernanda Guimarães
Foto do author Aline Bronzati
Por Vinicius Neder , Fernanda Guimarães e Aline Bronzati (Broadcast)
Atualização:

As condições impostas pelo BNDES e os bancos são as mesmas para todas as empresas, mas a Latam é a única que não tem capital aberto no Brasil, o que torna seu caso diferente. No ofício enviado, foi solicitado que as aéreas apresentem números e um plano. Nele, terão de detalhar o instrumento de liquidez para a emissão de títulos híbridos, de dívidas e ações (equity), que vai possibilitar a capitalização das companhias. Os bancos, por sua vez, têm de aprovar a ajuda em seus comitês de crédito e aprovar o plano.

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As instituições financeiras defendem, conforme fontes ouvidas na condição de anonimato, que ter as empresas listadas na bolsa brasileira é a melhor forma de facilitar, se necessário, a execução de garantias. Além disso, entendem que a medida contribui ainda na questão do desenho do pacote de ajuda. Ele inclui a emissão de bônus de subscrição, uma espécie de opção de compra de ações a um preço predeterminado, e ainda debêntures.  A condição do BDR, no caso da Latam, teria sido uma exigência do BNDES.

No passado, a Latam já teve papéis negociados na Bolsa brasileira, mas cancelou os títulos por falta de liquidez. A necessidade de voltar a ter esses BDRs, contudo, não agrada a companhia e acrescenta um degrau a mais no acesso ao socorro financeiro na crise. "Isso não está na mesa, ao menos até agora", diz uma fonte, próxima à empresa.

Com negócios distribuídos no Brasil, Colômbia e Chile, a Latam terá de demonstrar ainda, se aceitar a ajuda, como financiará a operação fora do Brasil. Ou seja: o BNDES quer garantir que o dinheiro oriundo desse pacote seja utilizado apenas na operação brasileira. Para garantir isso, os bancos exigiram detalhes sobre o modelo de financiamento a ser adotado nos outros países. Sobre esse ponto, a Latam já teria concordado desde o início das discussões, conforme fonte.

Segundo outro executivo ouvido, dentre as condições estabelecidas pelas instituições financeiras está a possibilidade de os bancos indicarem membros para o Conselho de Administração das empresas que receberem o apoio. Por trás dessa condição, está a intenção de fiscalização, de perto, dos planos das aéreas após o recebimento dos recursos.

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Desafio à parte será sobre o apetite de investidores em relação aos papéis que serão vendidos a mercado. Do total dos títulos que serão emitidos para socorrer as empresas aéreas, o BNDES ficará com 60%, os grandes bancos com 10% e o restante será vendido a mercado, conforme antecipou o Estadão/Broadcast.

A questão é que, na visão dos investidores, é muito difícil colocar um preço nos títulos dessas empresas no cenário atual, afetado pelo novo coronavírus. Além de obrigar que grande parte dos aviões ficasse no chão, a pandemia colocou em xeque a saúde financeira e perenidade das companhias aéreas.

Uma alternativa, diz uma fonte, são os próprios acionistas das empresas organizarem grupos para adquirir os papéis que serão ofertados ao mercado. Aqui, novamente, a Latam pode ter mais desafios que seus concorrentes. "A Latam tem uma estrutura de capital bem específica. Traz vantagens, mas gera problemas ao mesmo tempo. Os acionistas de Gol e Azul terão mais facilidade de organizar grupos para participar da compra da parte que irá a mercado", diz uma fonte a parte das negociações.

Procurada, a Latam não comentou.

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