As condições impostas pelo BNDES e os bancos são as mesmas para todas as empresas, mas a Latam é a única que não tem capital aberto no Brasil, o que torna seu caso diferente. No ofício enviado, foi solicitado que as aéreas apresentem números e um plano. Nele, terão de detalhar o instrumento de liquidez para a emissão de títulos híbridos, de dívidas e ações (equity), que vai possibilitar a capitalização das companhias. Os bancos, por sua vez, têm de aprovar a ajuda em seus comitês de crédito e aprovar o plano.
As instituições financeiras defendem, conforme fontes ouvidas na condição de anonimato, que ter as empresas listadas na bolsa brasileira é a melhor forma de facilitar, se necessário, a execução de garantias. Além disso, entendem que a medida contribui ainda na questão do desenho do pacote de ajuda. Ele inclui a emissão de bônus de subscrição, uma espécie de opção de compra de ações a um preço predeterminado, e ainda debêntures. A condição do BDR, no caso da Latam, teria sido uma exigência do BNDES.
No passado, a Latam já teve papéis negociados na Bolsa brasileira, mas cancelou os títulos por falta de liquidez. A necessidade de voltar a ter esses BDRs, contudo, não agrada a companhia e acrescenta um degrau a mais no acesso ao socorro financeiro na crise. "Isso não está na mesa, ao menos até agora", diz uma fonte, próxima à empresa.
Com negócios distribuídos no Brasil, Colômbia e Chile, a Latam terá de demonstrar ainda, se aceitar a ajuda, como financiará a operação fora do Brasil. Ou seja: o BNDES quer garantir que o dinheiro oriundo desse pacote seja utilizado apenas na operação brasileira. Para garantir isso, os bancos exigiram detalhes sobre o modelo de financiamento a ser adotado nos outros países. Sobre esse ponto, a Latam já teria concordado desde o início das discussões, conforme fonte.
Segundo outro executivo ouvido, dentre as condições estabelecidas pelas instituições financeiras está a possibilidade de os bancos indicarem membros para o Conselho de Administração das empresas que receberem o apoio. Por trás dessa condição, está a intenção de fiscalização, de perto, dos planos das aéreas após o recebimento dos recursos.
Desafio à parte será sobre o apetite de investidores em relação aos papéis que serão vendidos a mercado. Do total dos títulos que serão emitidos para socorrer as empresas aéreas, o BNDES ficará com 60%, os grandes bancos com 10% e o restante será vendido a mercado, conforme antecipou o Estadão/Broadcast.
A questão é que, na visão dos investidores, é muito difícil colocar um preço nos títulos dessas empresas no cenário atual, afetado pelo novo coronavírus. Além de obrigar que grande parte dos aviões ficasse no chão, a pandemia colocou em xeque a saúde financeira e perenidade das companhias aéreas.
Uma alternativa, diz uma fonte, são os próprios acionistas das empresas organizarem grupos para adquirir os papéis que serão ofertados ao mercado. Aqui, novamente, a Latam pode ter mais desafios que seus concorrentes. "A Latam tem uma estrutura de capital bem específica. Traz vantagens, mas gera problemas ao mesmo tempo. Os acionistas de Gol e Azul terão mais facilidade de organizar grupos para participar da compra da parte que irá a mercado", diz uma fonte a parte das negociações.
Procurada, a Latam não comentou.