Aramis Merki II
28 de abril de 2022 | 05h25
Gigante de criptomoedas diz que Brasil é mercado “muito relevante” Foto: Reuters/Edgar Su
Maior exchange global e dona da maior fatia do mercado brasileiro, a Binance afirma que a regulamentação é o único caminho para a indústria de ativos digitais se desenvolver e alcançar o grande público. Na terça-feira, o Projeto de Lei que traz regras para operações realizadas com criptoativos no Brasil foi aprovado. “O Brasil é muito relevante para a Binance e temos trabalhado em contato direto e constante com as autoridades locais para contribuir para a expansão do segmento de blockchain e criptoativos”, disse a empresa, em nota ao Broadcast.
A companhia se coloca como “totalmente comprometida com compliance”. O discurso vai em linha com movimentos recentes da Binance no Brasil, como a aquisição da Sim;paul, corretora autorizada pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Além disso, o CEO da Binance, o sino-canadense Changpeng Zhao (CZ), prometeu a abertura de uma sede no País após se reunir com os governadores do Rio de Janeiro e de São Paulo. Os escritórios da empresa ficarão nas capitais dos dois Estados, de acordo com nota.
Os indícios são de comprometimento, mas a companhia tem enfrentado questionamentos sobre a atuação por aqui. As corretoras cripto sediadas no Brasil têm obrigação de reportar à Receita Federal as operações de seus clientes. Como uma companhia global, sem sede declarada no Brasil, a Binance não cumpria essa determinação.
No início de abril, a holding passou a constar no quadro societário da B Fintech, registrada na Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp). Apesar disso, a companhia não confirma nem nega que passou a informar os dados de transações à Receita.
A Binance defende que a regulação do setor precisa levar em conta o caráter global deste segmento. “É fundamental pensar as regulações sobre criptoativos em escala global e no contexto da comunidade internacional.”
Para a empresa, a discussão prévia deve ser aprofundada. Na nota, a Binance citou que, nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden pediu que 17 órgãos diferentes estudassem o tema, antes de propor a regulamentação. Na União Europeia, o marco regulatório está em sua segunda fase de debates em um comitê específico.
Diante da aprovação do PL no Senado, os concorrentes nacionais demonstraram otimismo com a evolução do segmento. O argumento é que o ambiente regulatório claro permite o desenvolvimento do mercado e atrai mais investimentos. Em nota, a 2TM, dona da plataforma Mercado Bitcoin, também aponta que o regramento pode garantir, além de proteção para consumidores, “segurança para empreendedores”. Ou seja, é vista também como forma de estabelecer parâmetros para concorrência.
O professor e advogado Isac Costa, sócio do Warde Advogados, afirma que o projeto não contempla a atuação das exchanges estrangeiras. Na visão dele, a lei poderia explicitar que essas empresas receberão o mesmo tratamento das reguladas no Brasil. Outra alternativa seria que as reguladas não pudessem negociar com prestadoras de serviços cripto consideradas de alto risco.
A advogada Mariana Tumbiolo, sócia do escritório Madruga BTW, diz que uma forma de controle seria fiscalizar e supervisionar os meios de pagamento que fazem o dinheiro chegar às exchanges. “O ecossistema deve ser visto como um todo”, afirma. “Talvez seja o caso de pensar em uma supervisão que abranja detidamente também outros atores do mercado, para de alguma forma asfixiar o trabalho das exchanges que operam à margem.”
Uma fonte ligada ao setor, porém, enxerga que a Binance e outras gigantes globais como Coinbase e FTX já estão se mexendo para atuar em plena conformidade no Brasil, um dos principais mercados para o segmento. “Estas companhias têm infraestrutura e condições financeiras para se adequar com muita agilidade”, diz.
Este texto foi publicado no Broadcast no dia 27/04/22, às 17h12.
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