EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Bastidores do mundo dos negócios

Brasil joga cerca de 1 bilhão de litros de óleo de cozinha no ralo a cada ano

PUBLICIDADE

Por Alda do Amaral Rocha
Atualização:
Ponto de coleta de óleo de cozinha usado  Foto: Cargill/Divulgação

O óleo usado para fritar um ovo ou a batata frita pode se transformar em matéria-prima para biodiesel, sabão e até em insumo para tintas. Infelizmente, porém, é mais comum encontrá-lo jogado pelo ralo da pia e poluindo mananciais e esgotos. Embora a percepção seja de que mais as pessoas buscam descartar de forma correta o óleo comestível usado, o índice de coleta para reciclagem no Brasil é muito baixo.

PUBLICIDADE

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove), o consumo de óleo vegetal comestível foi de 4,7 bilhões de litros em 2019. Cálculos do IBGE indicam que 25% do óleo vegetal consumido pode se tornar resíduo, uma vez que muitas preparações de alimentos não geram resíduo do produto. Assim, do volume total consumido em 2019, 1,17 bilhão seria passível de ser recolhido, de acordo com Cindy Moreira, coordenadora de sustentabilidade da Abiove.

Na prática, porém, a coleta de óleo de cozinha rastreada no Brasil foi de 108 milhões de litros naquele ano. Ou seja, menos de 10% do que poderia ter sido destinado a outras cadeias de produção, como a do biodiesel e a de produtos de higiene.

"Há um potencial de expansão da coleta muito grande", diz ela. "Hoje em dia não diria que as pessoas têm hábito de jogar fora o óleo porque sabem que tem uma utilidade."

O porcentual de menos de 10% de óleo recolhido no País refere-se apenas à coleta rastreada. Assim, a coleta para reciclagem deve ser maior. "É difícil mapear essa rota de reciclagem porque tem muita coleta informal. Ainda mais agora (com a alta do óleo), quando o preço sobe muito, cria-se um mercado paralelo forte". Além disso, diz, o óleo de cozinha é muito usado para fazer sabão "nas regiões mais periféricas" do País - e o volume coletado nesse caso também não é contabilizado.

Publicidade

Não existe legislação federal sobre a logística reversa de óleos comestíveis, mas a Abiove coordena um dos programas com esse fim no País, o Óleo Sustentável. Fazem parte dele as cinco associadas da entidade que produzem óleos: Cargill, ADM, Bunge, Imcopa e LDC. Desde 2008, quando foi criado, o programa recolheu 10 milhões de litros de óleo em 16 Estados e no Distrito Federal. O projeto envolve óleo entregue voluntariamente pelo consumidor final em pontos de coleta e também recolhido no food service.

No Estado de São Paulo, a Abiove e o Sindicato da Indústria de Óleos Vegetais e Seus Derivados no Estado de São Paulo (SINDOLEO) assinaram com a Cetesb, no fim de 2012, um termo de compromisso para logística reversa do óleo de consumo doméstico, com metas anuais de volume, quantidade de pontos de entrega voluntária e ações de educação ambiental e comunicação. A meta para este ano é de 700 mil litros e vai a 1 milhão em 2024.

Educação ambiental

Em julho, a Cargill Foods, dona de marcas como Liza, Elefante e Pomarola, atingiu a marca de 6 milhões de litros de óleo comestível usado recolhidos desde 2010. "Essa é hoje, para nós, uma das principais iniciativas no Brasil voltadas para a economia circular", afirma Augusto Lemos, diretor-geral da Cargill Foods na América Latina.

Ligada à marca Liza e parte do programa coordenado pela Abiove - a iniciativa chamada Ação Renove o Meio Ambiente - envolve a instalação de pontos de coleta em supermercados, restaurantes, escolas e condomínios, nos quais o óleo usado pode ser entregue. São 1.700 pontos de coleta no Brasil, grande parte no Sudeste. Após o recolhimento, o óleo é destinado principalmente à produção de biodiesel.

Publicidade

Segundo Lemos, a coleta dentro do programa vem crescendo 15% ao ano. No ano fiscal passado (junho de 2020 a maio de 2021), foram 1,2 milhão de litros. A expectativa é alcançar 1,750 milhão de litros no atual ano fiscal. Isso deve ser possível com a abertura de mais locais para receber o óleo. "A ideia é ter mais 800 a 1 mil novos pontos de coleta", diz.

PUBLICIDADE

Com essas aberturas, mais municípios devem ser alcançados. Hoje, estão em 195 em 15 Estados, além do Distrito Federal. "Ainda há um grande potencial de crescimento, principalmente no Nordeste", diz.

Afora os novos pontos de coleta, Lemos afirma que campanhas de conscientização sobre o destino correto ao óleo devem permitir a ampliação do volume recolhido. "A gente sabe que não adianta só colocar o recipiente na entrada da loja", afirma. "O consumidor precisa ser educado de que é importante não descartar na pia, de que o óleo usado precisa voltar para embalagem e ser descartado corretamente".

A empresa tem ações nesse sentido em mais de 300 escolas no País, e lançou há dois meses campanha em mídia aberta e nas redes sociais falando sobre a importância do descarte correto.

Cindy Moreira, da Abiove, diz que para fazer os números da coleta avançarem é necessário conscientizar o consumidor. "Não adianta ter um programa com uma quantidade imensa de pontos de coleta espalhados, o óleo não vai sozinho para o ponto de entrega", diz. Além da educação ambiental, comunicar o consumidor sobre onde levar também é essencial.

Publicidade

Ela admite que as iniciativas de logística reversa do óleo ainda são reativas a alguma cobrança de órgãos ambientais, em sua maior parte. "As empresas têm de enxergar isso como algo positivo para elas, não só como obrigação (...). Acho que as empresas, falando em economia circular, devem usar isso a favor do negócio, não como um custo, mas como oportunidade de atrair mais consumidores, porque as pessoas estão mais preocupadas com essa questão".

  Esta reportagem  foi publicada no Broadcast+ no dia 14/09/2021 às 14h22. Broadcast+ é a plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão. Para saber mais sobre o Broadcast+ e solicitar uma demonstração, acesse Contato: colunabroadcast@estadao.com Siga a @colunadobroad no Twitter

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.