PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Bastidores do mundo dos negócios

Captações externas do Brasil caem pela metade em janeiro com Fed azedando taxas

Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Altamiro Silva Junior (Broadcast)
Atualização:
Federal Reserve (Fed) sinalizou mais altas de juros nos EUA do que o esperado  Foto: Daniel Slim/AFP

A perspectiva de elevação mais acelerada dos  juros nos Estados Unidos azedou as captações externas de empresas brasileiras. Após um quarto trimestre de 2021 fraco, os bancos esperavam entre 10 e 15 companhias emitindo títulos no exterior neste começo de ano, mas até agora só quatro o fizeram - Bradesco, Banco do Brasil, TV Globo e Açu Petróleo - e algumas com taxas de juros mais salgadas. Janeiro é tradicionalmente um mês forte para colocação de títulos de dívida no exterior, mas este ano o volume captado lá fora caiu para menos da metade do registrado no mesmo mês do ano passado, ficando em US$ 2 bilhões, ante US$ 5,3 bilhões em janeiro de 2021. Em 2020, ainda antes da pandemia, em apenas uma semana de janeiro, companhias do Brasil captaram US$ 3 bilhões lá fora.

PUBLICIDADE

Houve duas emissões de empresas ligadas ao Brasil nas últimas semanas, mas que não estão nos números acima, por terem sido feitas por companhias no exterior, com rating, inclusive, muito superior ao da economia brasileira. O Itaú BBA International estreou no mercado de dívida da Suíça, tomando o equivalente a US$ 164 milhões por meio de sua unidade no Reino Unido. Já a JBS USA captou US$ 1,5 bilhão, com papéis classificados como grau de investimento.

Segundo banqueiros de investimento, há algumas empresas que estão com emissões externas já prontas, esperando um momento mais favorável, que se desenha desafiador pela frente, com o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sinalizando mais altas de juros este ano do que o inicialmente esperado.

Laszlo Lueska, gestor da Octante, destaca que a volatilidade no mercado externo está muito elevada, o que deixa os investidores sem tanto apetite para novas emissões. Por isso, as empresas resolveram segurar operações e esperar por um melhor momento. Com as eleições prometendo nova rodada de volatilidade pela frente, o gestor afirma que as operações devem se concentrar neste primeiro semestre. "Infelizmente, a volatilidade não permitiu emissões mais robustas agora."

Frustração

Publicidade

"Há uma certa frustração, havia expectativa de uma janela mais animada neste começo do ano e ela está meio morta", afirma o responsável pela área de emissão de dívida local e internacional do UBS BB, Samy Podlubny. Ele observa que os juros longos americanos subiram de forma acentuada em janeiro, tendo impacto direto nas taxas pagas pelas empresas. E a percepção de volatilidade no Brasil contribui para elevar ainda mais a taxa dos emissores brasileiros.

O título do Tesouro americano de 10 anos, por exemplo, estava na casa do 1,62% no primeiro dia útil do ano e agora já supera 1,80%. Bancos como Wells Fargo, Citi, Deutsche Bank e Bank of America já veem ao menos cinco elevações de juros em 2022 nos EUA. Nesse ambiente, emissores que captaram em 2021 com juros de 4%, observam que atualmente esse título é negociado a 5% ou mais no mercado secundário de dívida. Se a empresa quer fazer uma emissão nova, tem que pagar desse valor para mais, ressalta Podlubny, o que desestimula novas ofertas.

Mesmo nesse cenário mais difícil, algumas emissões se destacaram em janeiro. O Bradesco fez sua primeira captação externa com perfil ESG, sigla em inglês para compromissos sociais, ambientais e de governança. O banco se comprometeu a usar os recursos da captação, de US$ 500 milhões, para financiar projetos ambientais e sociais de seus clientes, em um título de dívida (bond) que é uma combinação de "green bond" e de "social bond". Já o Banco do Brasil fez sua primeira emissão de um "social bond", em que se compromete a usar os dólares para empréstimos para o setor de educação, pequenos agricultores e empresas de menor porte. Os dois bancos tiveram demanda cerca de duas vezes a oferta.

 

Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 31/01/22, às 15h26.

O Broadcast+ é uma plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão.

Publicidade

Para saber mais sobre o Broadcast+ e solicitar uma demonstração, acesse.

Contato: colunabroadcast@estadao.com

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.