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Bastidores do mundo dos negócios

Com alta dos juros, empresas priorizam debêntures em captações e levantam R$ 12 bi

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Por Altamiro Silva Junior (Broadcast)
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As emissões de debêntures tiveram um janeiro forte, mantendo o fôlego observado na reta final de 2021. Ao contrário das captações externas de dívida, que decepcionaram este mês, e das ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês), que estão paradas desde agosto, o mercado de debêntures deve movimentar ao menos R$ 12 bilhões este mês, em operações de companhias como Marfrig, CSN Cimentos, Raia Drogasil, Ambipar, CCR e São Martinho. Nos bancos de investimento, a expectativa é que o mercado de debêntures continue forte nesta primeira metade de 2022, com companhias antecipando captações para evitar o período eleitoral, que tende a ser de volatilidade alta no mercado.

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Com a alta dos juros, que tendem a chegar a dois dígitos na próxima reunião do Banco Central, fundos passaram a comprar mais títulos de crédito privado desde o segundo semestre de 2021, o que gerou maior procura por debêntures, incluindo também pelo investidor de varejo. Ao mesmo tempo, com a dificuldade de emitir ações e também com as altas das taxas para captar no exterior, as empresas passaram a considerar emitir no mercado local de dívida. Contudo, já tem havido algum encurtamento dos prazos dos papéis e elevação das taxas.

"O fato de o mercado de ações estar fechado faz com que a alternativa de financiamento das empresas se transfira para a dívida", afirma o responsável pela área de emissão de dívida local e internacional do UBS BB, Samy Podlubny. O executivo relata ainda que lá fora as taxas subiram, sobretudo para emissores brasileiros, então algumas empresas que pretendiam acessar o mercado externo neste começo de 2022, acabaram optando por emitir aqui.

Pelo pipeline de captações de dívida local do UBS, que está forte, Podlubny avalia que a tendência observada em janeiro e no quarto trimestre de 2021 deve prosseguir no primeiro semestre, embora com prazos de alguns papéis devendo se reduzir por causa do aumento da volatilidade.

Demanda

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Mesmo com as várias ofertas de debêntures, Podlubny diz que tem havido demanda dos investidores, sobretudo para nomes conhecidos, normalmente que não são primeiros emissores ou empresas pequenas. "Operações que têm sido feitas voltadas para a venda, têm sido vendidas. Aqui e ali você pode ter um soluço, mas tem demanda", afirma o executivo. "Muito dinheiro fluindo para renda fixa, tanto direto de pessoa física, como de fundos e esse dinheiro precisa ser alocado."

A forte migração de ações para a renda fixa aumentou a procura por debêntures, o que gerou um congestionamento de emissões desde o final de 2021, ressalta a diretora de dívida (DCM) no banco de investimentos da XP, Fernanda Farah. Além disso, com as eleições, e o cenário de incerteza para o segundo semestre, tem havido muita antecipação de captação, para garantir um colchão de liquidez ou para financiar investimentos e aquisições.

"No caso de ações, ninguém vai querer captar ou vender parte da empresa por um valor que acredita não ser o correto", ressalta Farah. Assim, companhias que poderiam usar o mercado de renda variável para financiar fusões e aquisições, estão optando por debêntures.

Companhias

Nas emissões recentes, a Ambipar está captando R$ 1,25 bilhão em duas tranches. A empresa, especializada na gestão de resíduos, tem planos de gastar R$ 1 bilhão em aquisições este ano, isso após ter feito 28 compras no Brasil e exterior no ano passado, segundo a Fitch.

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Já a Marfrig, quando comunicou a emissão, de R$ 2 bilhões ao todo, gerou um burburinho nas mesas de operação de que a oferta poderia ser para bancar a compra de ações da BRF, que está fazendo uma oferta subsequente na próxima semana e a Marfrig pode virar sua controladora. Na destinação de recursos, porém, a Marfrig diz que pretende usar o dinheiro das debêntures para comprar gado.

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A diretora do banco de investimento da XP conta que a casa já está com operação no pipeline até maio. "Geralmente, o segundo semestre é sempre mais forte que o primeiro. Nossa expectativa é que este ano seja o contrário, ninguém vai querer ficar no risco de volatilidade", disse Farah mencionando o cenário eleitoral.

Os fundos e gestoras de recursos foram os maiores compradores de debêntures em 2021, ficando com 38,6% dos papéis. As pessoas físicas responderam por 3,7%. Bancos coordenadores das ofertas ficaram com 45% dos papéis, sejam porque a operação foi destinada para ficar mesmo com o banco, que usa seu balanço para garantir recursos aos tomadores, seja por algum problema de demanda e a instituição teve que ficar com os papéis. As emissões de debêntures somaram R$ 253 bilhões em 2021, crescimento de 109% em relação a 2020, e de 37% ante 2019.

 

Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 25/01/22, às 15h31.

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