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Bastidores do mundo dos negócios

Conselheiros da Linx queriam mais tempo para avaliar oferta de Stone

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Por Fernanda Guimarães
Atualização:
Stone questionou pedido da Elo de depósito de R$ 25 milhões em garantia Foto: Gabriela Biló/Estadão

No novo capítulo de uma das histórias mais quentes do mercado de capitais brasileiro, a ata de uma reunião de conselho de administração nada trivial da empresa de tecnologia Linx fez subir em mais alguns graus Celsius a temperatura do caso. O documento, com detalhes do encontro do colegiado, mostra que pode ter havido algum tipo de pressão para a aprovação da venda da Linx para a Stone - um negócio da ordem de R$ 6 bilhões.

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Bastidores. O movimento teria sido feito por um dos fundadores da companhia, Alberto Menache, que acumula os cargos de diretor presidente e vice-presidente do conselho da Linx. Ele e os outros dois fundadores da companhia, Nércio José Monteiro Alberto Fernandes e Alon Dayan, podem receber pelo acordo com a Stone R$ 240 milhões, por conta de uma cláusula de não competição por um prazo de três anos. O movimento tem sido apontado por acionistas minoritários como um "prêmio de controle disfarçado". Juntos eles têm 14% da empresa.

Urgente, urgentíssimo. Estavam na reunião os três fundadores, que ocupam assentos no conselho, mais dois membros independentes, Roger de Barbosa Ingold e João Cox Neto. Os dois pediram mais tempo para análise da proposta. Menache, contudo, disse que havia urgência na deliberação do tema, tendo em vista a validade da oferta da Stone. Afirmou ainda que "eventual adiamento da deliberação implicaria a perda da oportunidade de negócio pela companhia".

Para ontem. Menache disse ainda aos conselheiros que a oferta deveria ser aceita antes da divulgação do resultado trimestral da companhia e insistiu que poderia perder a validade. Esse trecho da ata pode corroborar com a denúncia feita pela Totvs, também na disputa pela Linx. A Totvs afirmou ter acertado com Menache uma oferta logo após a divulgação de seu resultado. Foi pega de surpresa, porém, com a postergação de seu balanço. A divulgação estava marcada previamente para o dia 10, mas ficou para o dia seguinte. Com isso, a Totvs disse que a companhia demonstrou não ter interesse em conhecer sua proposta. Conforme a ata, Menache não mencionou sobre outra oferta.

 

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Na reunião do conselho da Linx houve uma apresentação que foi conduzida pelo Goldman Sachs, que assessora a Linx nessa operação, sobre o racional do negócio. "Questionado pelos Conselheiros Independentes, o assessor financeiro confirmou que a análise financeira da Operação com base em referências de mercado estaria gerando prêmio para os acionistas da Companhia no valor aproximado de R$1,4 bilhão quando comparado com o preço de fechamento desta data, e que os parâmetros de avaliação da Operação estavam em linha com os prêmios de transações precedentes e acima do consenso do preço-alvo dos analistas disponíveis na data de hoje", segundo a ata da reunião.

A ata cita ainda que depois que foram "esclarecidos os fundamentos econômicos da Operação", e "considerando a inviabilidade do adiamento versus a perspectiva de se estar diante de transação de grande importância para o futuro da Companhia", o conselho deu início à análise das informações da operação.

Os conselheiros foram informados, após passarem a ter conhecimento da estrutura jurídica da operação, sobre a existência de uma multa de R$ 605 milhões, caso o negócio não fosse fechado. Menache, por sua vez, teria esclarecido que a penalidade "tinha sido estabelecida de forma recíproca para ambas as partes, ou seja, caso o Grupo Stone desistisse do negócio, estaria sujeito ao pagamento de multa no mesmo valor, o que representava uma proteção importante para a Linx".

Incold e Cox Neto também se debruçaram sobre o acordo de exclusividade e foram informados, pelo assessor financeiro, "que os membros independentes do Conselho de Administração da Companhia poderão receber e analisar propostas não solicitadas, preservando o direito da Companhia de receber ofertas superiores de terceiros, resguardando os deveres fiduciários dos administradores e o melhor interesse da companhia".

Não passou despercebido dos membros independentes do conselho o dinheiro que será recebido pelos fundadores, no acordo de não competição. A informação passada a eles por Menache, na reunião do dia 10 de agosto, era de que se tratava de uma exigência da Stone.

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"Especificamente em relação ao compromisso do CEO Alberto Menache, os assessores jurídicos esclareceram que a justificativa para a coexistência de um acordo de não-concorrência e de um contrato de trabalho decorre do fato de que o acordo de não-concorrência assegura ao Grupo Stone que o CEO não concorrerá com o Grupo Stone mesmo na hipótese de não permanecer no Grupo Stone após a consumação da Operação, tendo em vista que o contrato de trabalho poderá ser rescindido a qualquer momento caso sua continuidade não seja do interesse das partes", de acordo com a ata.

E assim foi. Ao final, a proposta foi aprovada. No dia seguinte, no meio do pregão, a Linx informou ao mercado que estudava uma oferta de "combinação de negócios feita pela Stone". No fim do dia, foi anunciado o acordo. A oferta da Totvs veio quatro dias depois da reunião. Procurada pela Coluna, a Linx não comentou o caso.

 

 

Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 18/08/2020 às 13:49

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