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Bastidores do mundo dos negócios

Debêntures e renda fixa desbancam ações como "queridinhas" do mercado

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Por Cynthia Decloedt (Broadcast)
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Enquanto as emissões de debêntures e outros títulos de crédito privado caminham para um novo recorde, as ofertas de ações têm enfrentado dificuldades crescentes para chegar à Bolsa. O número de operações de ofertas iniciais (IPOs, na sigla em inglês) cancelados este ano supera 50. Mas no mercado de renda fixa, muitas empresas desembarcam tranquilamente com emissões acima de R$ 1 bilhão. O movimento é tão nítido que gestores e banqueiros já afirmam que agora é o crédito privado o "queridinho" do mercado.

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A alta da taxa Selic vem puxando a mudança de rota do dinheiro e na estratégia dos gestores. Os fundos, especialmente os multimercados, ditam os caminhos, em função dos volumes de recursos que carregam e capacidade de influenciar o resto do mercado.

O responsável pela área de renda fixa do Bradesco BBI, Rafael Garcia, diz que há um círculo virtuoso alimentando o interesse dos investidores nos fundos de renda fixa de crédito privado e trazendo mais recursos para as novas ofertas desses papéis. "O ano começou com os spreads (o prêmio pago acima do juro) mais elevados", diz. "Agora, com a maior demanda por esses papéis, os spreads diminuíram, o que provocou uma marcação de preço positiva nas carteiras dos fundos, elevou o retorno na cota e, o investidor feliz retroalimenta os fluxos."

As captações líquidas dos fundos de renda fixa, incluindo títulos públicos, somaram R$ 237,2 bilhões no acumulado deste ano até setembro, levando para o recorde de R$ 390,6 bilhões o ingresso de recursos na indústria de fundos, no geral, no período. Os dados são da Associação Brasileiras das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Na sequência, vieram os fundos multimercados, com captações de mais de R$ 77 bilhões.

Bom momento

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As companhias, por sua vez, aproveitam a retomada do apetite dos investidores para antecipar captação de rolagens previstas no ano que vem, bem como para investimentos já programados, uma vez que o mercado pode ficar mais volátil com as eleições presidenciais em 2022. O cenário é agravado também pelas condições macroeconômicas, que indicam que o crescimento do País será afetado pela escalada da inflação e dos juros.

Algumas companhias também têm feito um reforço de caixa para o pagamento de dividendos, antes de uma possível mudança de regras eventualmente trazida pela reforma tributária. Isso explicaria as ofertas de montantes superiores a R$ 1 bilhão.

O incentivo vem também do custo das operações. Garcia, do Bradesco BBI, afirma que, dada a demanda elevada, o prêmio pago pelas empresas nas ofertas de debêntures está caindo, compensando o custo envolvido com a alta da Selic. Para empresas de melhor qualidade, o prêmio caiu mais de 1% desde o fim do ano passado.

De acordo com o responsável pela área de renda fixa do banco de investimento da XP, Davi Caixe, os prêmios estão justos em relação aos riscos e ainda distantes das distorções que ocorreram em 2019, quando o excesso de demanda acabou puxando os prêmios excessivamente para baixo.

Caixe afirma que a melhora no mercado de renda fixa local está chamando a atenção das companhias com acesso ao mercado internacional. "O local já está mais barato em termos de custo, considerando uma taxa equivalente em dólar e convertida para o real para operações de até R$ 1 bilhão e prazo de 7 a 10 anos", diz. Segundo ele, alguns clientes, especialmente aqueles que têm pelo menos parte das receitas em reais, têm pedido leitura de ambos os mercados.

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"No universo das gestoras de ativos, o mercado de renda fixa de crédito é o que mais cresce na indústria de fundos locais este ano", diz o chefe de investimentos da Western Asset, Paulo Clini. Para ele, a perspectiva de o juro real ficar entre 3,4% e 4% - considerando uma taxa Selic entre 8,5% e 9% -, somada ao prêmio que os papéis de empresas menos arriscadas oferecem (entre 150 pontos-base e 200 pontos-base), deixa esse investimento atrativo.

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Por outro lado, no mercado de ações, os investidores não conseguem enxergar as mesmas vantagens. "As empresas nunca estiveram tão saudáveis, mas a Bolsa assiste à saída de investidores pelo 'filme' que esses participantes estão prevendo", afirma Clini.

Segundo ele, diferentemente da crise de 2015/2016, as companhias estão com um baixo endividamento e, ao mesmo tempo, caixa elevado. Entretanto, embora não haja estimativa de um colapso das empresas, os desafios macroeconômicos e políticos prejudicam as expectativas de crescimento de receitas das empresas. "É muito possível que o pico do lucro talvez esteja em 2021 e acho que há um consenso de que o lucro das companhias listadas não cresça em 2022", afirma.

 

Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 13/10/2021 às 10h10.

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