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Bastidores do mundo dos negócios

Disputa em delivery de supermercados ganha tom de 'corrida maluca' e tem até cavalos

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Por Elisa Calmon e Talita Nascimento
Atualização:

Entregador do iFood  na capital paulista Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Se o comércio eletrônico de bens duráveis é palco de competição acirrada, a disputa pela liderança de entregas de supermercados começa a ganhar tons de "corrida maluca". Enquanto o iFood, que antes só entregava refeições e compras de emergência, cresce forte, o Mercado Livre foi além das compras planejadas e aproveita sua estrutura logística para avançar nas entregas rápidas. O resultado é que a pista está mais congestionada, com pacotes andando até a cavalo e de barco, literalmente, para chegar ao seu destino. (Veja abaixo vídeos enviados por entregadores da empresa na região Norte).

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O iFood Mercado surgiu em junho de 2019. Em julho, o serviço, que inclui delivery de mercado, farmácia e produtos pets, chegou à marca de 33 mil lojistas atendidos. No mesmo mês do ano passado, eram 2,3 mil. A meta é fechar 2021 com 40 mil. Os planos para o segundo semestre incluem dobrar as cidades atendidas, que hoje somam 908, espalhadas em todas as regiões do Brasil.

A empresa se diz líder na categoria com base nesses números. "Quando olhamos a cobertura em termos de cidades atendidas e números de parceiros, lideramos. Os concorrentes estão mais concentrados, atuando em um número menor de regiões. O nosso DNA nacional é o que está por trás desse crescimento", segundo o diretor do iFood Mercado, Antonio Mello.

No entanto, nessa mesma base de comparação, o Mercado Livre mostra uma cobertura mais ampla. A plataforma tem mais de 12 milhões de vendedores. Cerca de 120 mil vendem nas seções de supermercado. Além disso, a empresa afirma que "todos os itens de supermercados estão armazenados em full" (modelo em que o Mercado Livre fica com o estoque do lojista para realizar entregas mais rápidas) e estão "disponíveis para todo o Brasil", em todas as cidades.

 

 

Essa presença cria cenas inusitadas e dá um tom bem-humorado às operações, frente a falta de infraestrutura do País. Para entregar em todo o território nacional, o Meli tem entregadores que andam a cavalo e outros que vão de barco.

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O presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, afirma que aplicativos "clássicos" de entrega, como o iFood e o Rappi, e os de compras programadas, como Mercado Livre, Magazine Luiza e Americanas, estão cada vez mais se sobrepondo uns aos outros. "Tentar estabelecer liderança é como comparar os atacarejos com supermercados: são parecidos se pensar em um ângulo mais amplo, mas são modelos de atuação diferentes", diz.

Comparando iguais

Mesmo a comparação entre o iFood e o Rappi é complexa. O Rappi vem forte na cidade de São Paulo, com um modelo diferente para atender aos pedidos. Além de ter redes de varejo cadastradas como lojistas da plataforma, a companhia conta com 39 mini centros de distribuição (as chamadas Dark Stores) que realizam entregas em até 10 minutos. Na atuação nacional, porém, iFood parece ter mais força. No entanto, como o Rappi não abre seus dados de número de lojistas parceiros e pedidos, a comparação fica prejudicada.

Já a Cornershop, aplicativo de compras de supermercados, atendia 33 cidades brasileiras até o fim de julho deste ano. No mesmo mês do ano anterior, eram 12 municípios. A plataforma, controlada pela Uber, chegou ao País há cerca de um ano e meio.

As varejistas com lojas físicas, por sua vez, também dão passos nessa direção e com proposta de valor mais parecida com a do Mercado Livre. A Americanas comprou recentemente a Hortifrúti Natural da Terra, maior rede varejista especializada em produtos frescos de hortifrúti e lançou o Americanas Delivery, que realiza entregas com média de 36 minutos para itens de supermercados, farmácias, restaurantes, petshops, entre outros.

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Hoje, o "Americanas Mercado" tem mais de 1,5 mil parceiros cadastrados na categoria. Considerando alimentos, farmácia, bebidas e pet, além dos lojistas parceiros que vendem diretamente da indústria para o consumidor, são mais de 19 mil parceiros cadastrados.

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Na mesma linha, o Magazine Luiza afirma que 40% dos itens vendidos e entregues por sua plataforma já são itens de supermercado. A companhia concluiu esse ano a compra da Vip Commerce, startup que oferece sua plataforma para mais de 100 redes de supermercados, com 400 lojas distribuídas em 18 estados. A plataforma processava em março cerca de R$ 250 milhões em vendas anualizadas, crescimento de mais de 10 vezes em relação ao mesmo período do ano passado

O GPA, parceiro do iFood, tem também sua própria empresa de entregas. O James Delivery está presente em 32 cidades com 325 lojas em operação, ante 314 lojas há um ano atrás.

 

Última fronteira

Terra acredita que a última fronteira do comércio eletrônico brasileiro seja o comércio de alimentos frescos e perecíveis. Nessa área, a Americanas é a mais ousada, que entrou de cabeça no negócio com a compra da Natural da Terra. No entanto, ele lembra que rapidez de entrega nesse segmento é determinante e, nesse ponto, é difícil bater a agilidade de entregadores do iFood. O tempo médio de entrega do segmento de supermercados da plataforma é de 20 a 40 minutos, segundo Antonio Mello.

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O diretor do iFood Mercado aponta a inovação como principal estratégia para se sobressair em meio aos esforços da concorrência. Ele destaca que são levadas em consideração as características próprias de cada tipo de delivery para otimizar a experiência. Por exemplo, a modalidade de compras inclui a necessidade de entregas por carro e não apenas por moto, como acontece com as de restaurante. Mello complementa dizendo que a plataforma foi a primeira a criar a opção de lista de compras pronta para facilitar que o cliente tenha uma base fixa de pedidos ao fazer a solicitação. A ultra conveniência, modelo de entrega em até 15 minutos, é mais uma aposta da iFood Mercado. Atualmente 3,1 mil empresas parceiras oferecem o serviço.

No iFood, a integração com grandes empresas, que são bastante pulverizadas, também contribuem para a expansão da categoria mercado, segundo Mello. O executivo destaca a participação de grandes empresas regionais, fora do eixo Sul-Sudeste, que se renderam ao aplicativo com a transformação digital imposta pela pandemia. A média total de pedidos da plataforma é de 60 milhões por mês. No entanto, o iFood não segmenta esses dados, identificando quanto desse total é referente à modalidade de entregas de mercado, farmácia e produtos pets.

 

Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 27/08/21 às 14h12.

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