Eleito conselheiro de administração da Vale em lista alternativa indicada por fundos de investimento e gestoras, o ex-presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, defende que a mineradora precisa reforçar iniciativas no campo ESG (ambiental, social e de governança), a estratégia de alocação de capital e os investimentos em transformação digital e inovação, para recuperar a posição que já teve no passado.
"A Vale é uma companhia fantástica, com pessoas competentes em seus quadros e ativos de classe mundial, mas precisa melhorar. Já foi a segunda maior mineradora do mundo por capitalização de mercado e hoje é a terceira", afirmou ao Estadão/Broadcast.
Em sua análise, a Vale precisa desenhar um plano estratégico de longo prazo, com horizonte de 10 a 20 anos. Isso passa por buscar uma gestão eficiente do capital, com aportes de recursos em iniciativas de maior chance de gerar valor ao acionista. Executivo da Vale de 1999 a 2014, ele considera que a empresa errou na diversificação excessiva no passado, o que exigiu a reestruturação iniciada por Murilo Ferreira, com prioridade na redução de custos e desinvestimentos. A estratégia lembra a adotada por ele próprio na Petrobrás.
"Não há muito o que inventar. Para triunfar, uma empresa de petróleo ou de mineração tem de ter custos baixos, não pode ser muito endividada, tem de alocar o capital em ativos de classe mundial, que tragam retorno elevado. Além disso, focar a parte ambiental, social e de governança", disse.
Pendências em relação a Brumadinho e Mariana
Segundo ele, também há necessidade de solucionar de forma definitiva as questões pendentes em relação aos desastres com as barragens de Brumadinho e Mariana. Só assim a Vale poderá recobrar a confiança dos investidores plenamente. "A reconquista da reputação é algo lento, mas as iniciativas nessa direção têm de ser rápidas, intensas e focadas nas comunidades", diz.
A atuação dos conselheiros eleitos com o apoio de acionistas minoritários (além dele, Marcelo Gasparino, Mauro Cunha e Rachel Maia), diz ele, será independente. "Não haverá formação de blocos. Somos independentes e vamos procurar discutir com os demais o que é melhor para a Vale. Deve haver união em prol da empresa e de seus acionistas", afirma.
Castello Branco considera "histórico" o resultado da assembleia geral ordinária (AGO) concluída nesta segunda-feira. Em sua opinião, significará investidores mais bem representados, mais debate e maior qualidade das decisões. Apesar disso, afirma que a governança da Vale ainda tem de evoluir e que o conselho pode ter mais diversidade. O colegiado eleito nesta segunda-feira para o biênio 2021-2023 terá apenas uma mulher entre seus 13 membros, apesar de ter tido quatro indicadas.
Para ele, a inovação é fundamental para todas as dimensões de uma companhia como a Vale: mudança climática, segurança das operações, redução de custos e ganhos de eficiência. "O mundo está mudando muito rapidamente, a revolução digital facilita muita coisa e temos que pensar profundamente nisso", diz.
Ex-presidente da Petrobrás teve saída conturbada da estatal
Em meio a rumores de que sua eleição ao board da mineradora poderia criar mal estar junto ao governo, após sua saída conturbada da Petrobras, ele afirma que houve uma tentativa de o desqualificar.
"Não tenho nenhuma desavença com o governo, não sou político e tenho boas relações, inclusive com o ministro da área de atividade da Vale, de Minas e Energia (Bento Albuquerque)", disse. "Além do mais, quem representa a companhia é o CEO".
Castello Branco preferiu não falar sobre os primeiros passos de seu sucessor na estatal, o general Joaquim Silva e Luna. "Não sou analista, sou executivo. Desejo que tenha muito sucesso".
Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 03/05, às 18h00.
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