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Bastidores do mundo dos negócios

Em processo de IPO, CBA alerta que pode reduzir produção por causa da crise hídrica

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Por Matheus Piovesana (Broadcast)
Atualização:
Fábrica da CBA em Alumínio (SP)  Foto: Robson Fernandjes/ Agência Estado

Mesmo gerando praticamente toda a energia que consome, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) pode ser atingida pela crise hídrica que preocupa a indústria. Com dependência de geração hidrelétrica, a companhia pode se ver obrigada a reduzir a produção de alumínio para evitar um "apagão" ou os custos milionários da compra de energia no mercado de curto prazo.

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Nos documentos de sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), a empresa do Grupo Votorantim afirma que havia planejado o uso de energia neste ano com base na produção menor por suas usinas. A CBA esperava que a produção das unidades, a chamada garantia física, caísse em 22% no Mecanismo de Realocação de Energia (MRE), ferramenta do setor que divide riscos hidrológicos entre os agentes.

Esse cálculo não considerava o nível crítico a que os reservatórios da região Centro-Sul do País chegaram neste início de inverno - todas as usinas da CBA ficam na região. Com isso, o parque de geração da companhia, que tem 21 hidrelétricas com capacidade para gerar 1,4 gigawatts de energia, pode não entregar toda a eletricidade de que a produtora de alumínio necessita. Isso deixa a CBA com duas saídas: comprar energia de terceiros, pagando mais caro, ou colocar o pé no freio em suas fábricas.

"A companhia conhece a volatilidade do mercado de energia no Brasil e já vivenciou cenários de crise hídrica semelhantes ao que se espera para o ano de 2021", afirma a CBA. Segundo a companhia, em caso de redução da produção, seria necessário importar metal para garantir o atendimento aos clientes.

Gerar a energia que as operações consomem é parte da cartilha das chamadas indústrias eletrointensivas, que necessitam de muita eletricidade em seu processo produtivo. O prospecto da oferta da CBA mostra que, nesse grupo, ela é acompanhada no Brasil por nomes como CSN e Vale. As duas têm forte dependência de hidrelétricas, mas também geram energia eólica ou térmica.

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Usinas térmicas parecem pouco cabíveis na proposta da CBA de produzir "alumínio verde", com baixa pegada de carbono. Na energia eólica, a empresa vai construir um parque com a Votorantim  Energia e a CPP Investments. Com capacidade de 150 MW de geração, a unidade vai substituir hidrelétricas cujas concessões vencem em 2023. Outros 520 MW em projetos eólicos e solares estão sob análise - parte pode ser financiada pelos recursos captados no IPO.

Recuperação

O impacto da crise hídrica viria no momento em que a CBA vê recuperação na demanda. No primeiro trimestre, o aumento nos preços médios do alumínio e nas vendas da companhia elevou em 43% sua receita líquida, para R$ 1,8 bilhão. A geração de caixa medida pelo Ebitda, no critério ajustado, subiu 123%, para R$ 360 milhões.

Na linha final dos resultados, a CBA teve prejuízo de R$ 133 milhões, por conta de uma baixa no valor contábil de suas operações de níquel. Entre janeiro e março do ano passado, a empresa havia lucrado R$ 47 milhões.

Os resultados são fruto de um processo de melhoria dos números da empresa, considerada a 'joia da coroa do Grupo Votorantim. Um gestor familiarizado com a companhia afirma que a CBA passou por uma ampla redução de custos nos últimos anos, o que envolveu a produção da própria energia. "Eles sofreram, e a alta no preço das commodities ajudou", diz o profissional.

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Na Bolsa de Londres, a tonelada do alumínio chegou a US$ 2.428 em pregões recentes. No começo de 2020, ficaram, na média, em US$ 1.690 a tonelada. A retomada dos setores de construção e automóveis ajudou a impulsionar a demanda e os preços. O maior apetite da China pelo insumo enxugou a oferta global, o que também ajudou.

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Oferta bilionária

Se colocados todos os lotes de ações, a oferta da CBA pode movimentar R$ 3,037 bilhões, considerado o teto da faixa de preço definida pela empresa, que vai de R$ 14 a R$ 18. A oferta primária, em que os recursos vão para o caixa da companhia, pode movimentar até R$ 1,125 bilhão. A CBA pode chegar ao mercado avaliada em R$ 10,7 bilhões.

Cerca de 70% do dinheiro arrecadado na oferta primária irá para investimentos como a construção de um parque de energia eólica e o aumento da capacidade de produção. Os outros 30% serão utilizados para aquisições, possivelmente de menor porte e ligadas à reciclagem de alumínio.

O período de reserva das ações da CBA no IPO vai até o próximo dia 12. No dia 13, será definido o preço por ação da companhia. As ações começam a ser negociadas na B3 em 15 de julho, sob o código "CBAV3".

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O Bank of America é o coordenador líder da oferta, e BTG Pactual, Bradesco BBI, Citi, XP e UBS BB também atuam como coordenadores.

 

Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 05/07/2021, às 16h21.

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