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Bastidores do mundo dos negócios

Empresas aproveitam onda verde para acessar bolso do estrangeiro

A segunda época mais importante no ano para emissões de títulos de dívida no exterior (bonds) começa nesta terça-feira. Setembro, depois de janeiro, é o mês de maior intensidade em ofertas de papéis de dívida de empresas e governos, e este ano, apesar da pandemia, não deve ser diferente. A gigante Suzano, de papel e celulose, e a Embraer já informaram sobre novas emissões e pelo menos outros dois ou três anúncios estão previstos para esta semana. Com o tema do desmatamento da Amazônia totalmente em voga, um número grande de companhias vai embarcar na pegada sustentável para atrair e atender a demanda crescente dos investidores por papéis de empresas comprometidas com o meio ambiente e com aspectos sociais.

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Por Cynthia Decloedt (Broadcast)
Atualização:

O cálculo dos profissionais desse mercado é de que o total captado pelas empresas brasileiras este ano supere os cerca de US$ 33 bilhões de 2019, sendo que até agora, o Brasil já levantou US$ 19 bilhões, contra US$ 17,5 bilhões em emissões nos primeiros seis meses do ano passado. Novamente, não se espera dificuldade nas colocações. Suzano e Embraer podem levantar juntas até US$ 3 bilhões. O apetite dos estrangeiros por retorno é grande e o Brasil se encaixa nessa lógica.

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Outras grandes empresas, de primeira linha, exportadoras e que frequentemente vão ao exterior, são aguardadas, com foco em melhora do perfil de suas dívidas, em termos de prazo e custos. Assim, se espera a presença de companhias estreantes, aproveitando que o bolso do estrangeiro está cheio. A lógica dessas empresas é simples. Muitas captaram dinheiro caro junto a bancos e ainda se adaptam às difíceis e novas condições impostas pela covid-19 na economia como um todo, seja internamente ou no exterior. Além disso, o mercado de dívida local, onde as debêntures são o instrumento mais comum, continua seco. Entre as possibilidades, o mercado olha para Petrobras, que continua trabalhando no perfil de sua dívida. Bancos também devem vir, na opinião de especialistas ouvidos e que preferem não serem identificados, como o Banco do Brasil, que tem um bond perpétuo que paga juro anual de 8,5% e conta com opção de compra em outubro.

O responsável pela área de mercado de dívida do BTG Pactual, Sandy Severino, acredita que cerca da metade das emissões brasileiras previstas para os próximos meses deve estar relacionada à sustentabilidade. Suzano, por enquanto, dá a largada nesse sentido, devendo precificar na quinta-feira uma operação de títulos relacionados a compromissos de emissão de carbono em 10 anos. O conselho de administração da Suzano aprovou a emissão de até US$ 2 bilhões em bonds, mas o diretor de Finanças e Relações com Investidores da companhia, Marcelo Bacci, afirmou ao Broadcast na semana passada que a operação pode ficar abaixo disso. Se não cumprir as metas previstas no bond de chegar a uma redução de 15% na emissão de carbono em 10 anos, o juro do papel será elevado.

Entretanto, os investidores já encheram suas carteiras de papéis brasileiros a partir de maio, quando as companhias e o governo aproveitaram a oportunidade para captar ainda em meio aos momentos mais críticos desde que foi decretada a pandemia. Com isso, o espaço para negociar custos mais baixos com os investidores diminuem e os riscos atrelados ao Brasil, como o déficit do País, Amazônia e de desgaste político, aumentam.

"Os investidores já compraram um grande volume de papéis do Brasil e muitos estão com a capacidade máxima de alocação no País", observou Severino. Ele não acredita que esse seja um empecilho para as novas colocações, pelo fato de haver muito dinheiro sobrando no mercado. Mas pode remeter a uma situação em que os investidores tenham de vender papéis velhos para adquirir novos, favorecendo as operações que tenham um componente de recompra de títulos, e reduzindo a margem para compressão de preço (taxa de remuneração). "Em janeiro e fevereiro deu para puxar muito o preço para baixo. Não haverá tanto essa chance agora, porque os investidores estão 'full invested' no Brasil", comentou.

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As duas emissões já anunciadas têm componente de recompra. A Suzano informou que usará os recursos do novo bond para a recompra de até US$ 700 milhões em títulos com vencimento em 2026, que pagam juro de 5,75% ao ano; e de até R$ 1,2 bilhão em duas emissões com vencimento em 2024 e juro de 5,25% com vencimento em 2025 e juro anual de 4%. A Embraer vai recomprar até US$ 250 milhões em bonds com vencimento em 2022 e 2023. A fabricante brasileira de aeronaves começou roadshow nesta terça-feira e informou que pretende captar montante benchmark, o que para uma empresa de seu porte varia de US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão.

Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 08/09/2020 às 13:39.

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