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Bastidores do mundo dos negócios

Empresas deixam quase US$ 20 BI no exterior no 2º semestre para pagar dívidas

O saldo comercial brasileiro aumentou na pandemia, mas as empresas têm crescentemente deixado seus dólares lá fora. Levantamento da gestora Armor Capital mostra que só no segundo semestre as exportadoras deixaram quase US$ 20 bilhões de suas receitas no exterior, segundo análise do diferencial entre o valor contratado e o físico de exportações, uma medida de quanto o exportador mantém em dólares no exterior.

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Por Altamiro Silva Junior (Broadcast)
Atualização:

No primeiro semestre, ao contrário, as companhias trouxeram mais recursos para o Brasil. Por isso, no acumulado de 2020, o total deixado lá fora das receitas de exportações está em US$ 17 bilhões, mostra o levantamento da Armor.

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Entre as razões apontadas para deixar os recursos no exterior, o sócio da Armor, Alfredo Menezes destaca o pré-pagamento de dívidas. A Petrobras, por exemplo, anunciou operações de recompras de bônus neste segundo semestre, uma delas sendo concluída na semana que vem, de mais de US$ 2 bilhões.

"Temos visto uma intensificação neste segundo semestre do movimento de deixar recursos no exterior", afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico. "Tivemos uma balança comercial forte que não se traduz em fluxo cambial positivo", acrescenta. No ano, até novembro, o superávit da balança comercial brasileira somou US$ 51,2 bilhões, ante US$ 42,1 bilhões no mesmo período de 2019.

Além do pré-pagamento de dívidas lá fora, a economista inclui outros dois fatores para estimular esse movimento. Um deles é o juro muito baixo no Brasil, que leva empresas a procurar formas de rentabilizar mais seus recursos no exterior. "Com Selic a 2%, pode ser razoável manter estes recursos lá fora", diz Damico. A outra razão é a otimização da gestão de caixa, pois a companhia pode pagar fornecedores e outras despesas que têm em dólares no exterior, como importações.

O gestor da Kapitalo, Carlos Woelz, também destaca que as empresas estão, de forma significativa, pagando dívida em dólar. "O exportador pode deixar parte do dinheiro lá fora, para pagar dívida quando vence." Com isso, diminuiu a entrada dos dólares do comércio exterior. "Com esse nível de câmbio, as empresas estão gerando muito caixa. Com esse dinheiro, aproveitam para pré-pagar dívida e diminuir sua exposição ao dólar", disse ele em evento do Itaú esta semana, destacando que a queda dos juros no País, muitas companhias preferiram tomar recursos em real.

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O fato de as empresas preferirem deixar recursos de exportações lá fora tem um lado negativo no curto prazo, que é a maior escassez de dólares no mercado de câmbio no Brasil. Com isso, o câmbio pode ficar ainda mais pressionado. Mas a economista da Armor aponta que, no médio prazo, um recurso que poderia sair do País para pagar dívida no exterior não vai ocorrer, por já estar lá fora. Além disso, o volume de recursos que as empresas mantêm no exterior é um ativo externo brasileiro. Assim, contribui para a queda do passivo externo líquido, que é um indicador de vulnerabilidade de uma economia.

Até 2008, a regulação exigia que as exportadoras trouxessem todos os recursos com vendas externas ao Brasil. Essa regra foi mudando e agora elas podem deixar até 100% deste dinheiro no exterior. Este é um passo para a conversibilidade do real, destaca a economista da Armor.

Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 11/12/2020 às 11:07

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