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Bastidores do mundo dos negócios

Empresas usam derivativos para comprar ações de concorrentes sem alarde

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Por Cynthia Decloedt (Broadcast) e Altamiro Silva Junior (Broadcast)
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 Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Mais companhias brasileiras estão usando complexos instrumentos do mercado de derivativos, como opções de compra de ações, para adquirir participação em seus concorrentes, ou empresas nas quais têm interesse, diretamente na bolsa. A estratégia foi usada este mês, por exemplo, pela Cosan, que investiu para ficar com até 6,5% de participação na mineradora Vale, fatia avaliada em R$ 22 bilhões.

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Em meados do ano passado, a aquisição de um pedaço na BRF pela Marfrig, que chegou a 33,2% do capital da rival, seguiu o mesmo modelo. Uma das vantagens, segundo o chefe da área de mercados globais no Citi Brasil, Eduardo Miszputen, é a de comprar a fatia desejada sem chamar a atenção do mercado.

"Comprar ações aos poucos traz visibilidade para a operação e, portanto, modifica o preço da ação, à medida que mercado percebe que há um interessado nos papéis", diz Miszputen, que por anos trabalhou na Ásia. No exterior, esse tipo de operação é mais comum já há algum tempo. Agora, se transforma em opção também no Brasil.

É uma forma de os bancos ajudarem, via derivativos, empresas a fazerem compras no mercado, seja de ações ou de grandes quantidades de ações ('block trade', no jargão do mercado), de acordo com o chefe do banco de investimento do JPMorgan no Brasil, Pedro Juliano.

A queda do preço das ações em bolsa ajuda as companhias a verem valor neste tipo de operação, que pode agilizar estratégias de fusão e aquisição (M&A). A Cosan encontrou preços atrativos para entrar neste momento na Vale - e disse que as cotações não refletiam todo o potencial da mineradora, ao contrário dos papéis de seus concorrentes no exterior.

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Os bancos carregam parte do risco de oscilação de preço da ação nesse tipo de operação, já que para a empresa compradora o valor fica travado na opção de compra (derivativo) do papel. É possível estabelecer travas ou limitadores tanto de queda da ação que a companhia quer comprar, como de alta.

Miszputen afirma que a operação não é mais cara do que uma aquisição tradicional financiada via empréstimo bancário. Segundo ele, a "questão estratégica da velocidade de execução é mais relevante do que a diferença de preço." Por conta dos custos mais altos envolvidos para montar estas operações, que exigem garantias e participação de vários advogados, para companhias de menor porte esse tipo de engenharia financeira pode ser inviável.

As aquisições por meio de derivativos também permitem manter em sigilo a intenção do comprador não só do mercado, mas da própria empresa alvo. Essa é uma diferença atraente em relação às aquisições de ações em bolsa do tipo block trade, nas quais o jogo é combinado com antecedência. Nas vendas em bloco, o vendedor e o comprador estão cientes da operação. Os bancos correm o risco de oscilação do preço das ações, porque compram a posição desejada para vender o bloco de ações em leilão na bolsa.

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