As empresas brasileiras recompraram US$ 9,3 bilhões em dívidas emitidas por meio de bonds no exterior. O montante é quase o dobro dos US$ 4,9 bilhões que as empresas levantaram lá fora este ano. É uma situação atípica, já que tradicionalmente as companhias lançam papéis novos para recomprar os velhos. As grandes companhias nacionais recorrem ao exterior para captar volumes maiores e a prazos mais longos junto a fundos e outros investidores globais de peso. Vale e Petrobras, por exemplo, já recompraram juntas mais de US$ 4 bilhões.
A soma não inclui recompras feitas sem anúncio ao mercado, uma exigência para operações grandes. No grupo das recompras sem aviso, estão as feitas por companhias de proteína, como Minerva e Marfrig. Por outro lado, Cemig, CSN e o Banco do Brasil, que tem bonds vencendo no fim do ano, já informaram que estudam recompras.
Juros nos EUA impulsionaram movimento
A alta do juro norte-americano é o principal motivo dessa mudança. Para as companhias, ficou mais barato captar recursos no mercado brasileiro do que no exterior ou até mesmo usar o próprio caixa para essas recompras.
Ao mesmo tempo, a percepção de que o juro pode seguir subindo tem afastado investidores internacionais dos papéis de países emergentes, o que jogou os preços dos bonds para baixo e os tornaram mais atraentes à recompra.
Com caixa, companhias reestruturam dívida
Segundo o responsável pela área de mercado de capitais de dívida (DCM, na sigla em inglês) no Brasil do Bank of America, Caio de Luca, diferentemente de outras crises, "os preços dos bonds estão descontados durante uma crise que é global, com as empresas saudáveis e com balanços robustos."
Já o sócio e gestor de estratégia de crédito do Ibiúna Investimentos, Eduardo Alhadeff, diz que a estratégia é "uma boa alocação do capital para companhias", que recompram dívidas com desconto entre 15% e 25%. Para ele, a recompra tem efeito contábil favorável para as empresas, uma vez que o ganho apurado resulta em receita financeira.
Junho e julho foram os meses nos quais os preços dos bonds estiveram com maiores descontos. De Luca, do BofA, diz que as conversas para potenciais recompras continuam e os descontos seguem positivos.
Esta nota foi publicada no Broadcast+ no dia 25/08/2022, às 17h11.
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