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Bastidores do mundo dos negócios

Equatorial compra gaúcha CEEE, pior distribuidora do País - e investidores gostam

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Por Luciana Collet (Broadcast) e Wilian Miron
Atualização:
CEEE: governo do Rio Grande do Sul tira passivo de seu orçamento / Foto: Fernando C. Vieira/Grupo CEE

Em leilão apagado e sem a participação da CPFL, principal candidata a adquirir a CEEE-D, o Grupo Equatorial arrematou a distribuidora de energia gaúcha com uma oferta de R$ 100 mil. A despeito da falta de competição, que trouxe certa desconfiança sobre a operação, o grupo ganhou crédito do mercado, uma vez que é considerado especialista em recuperação de ativos deficitários. As ações da companhia encerraram o dia de ontem em alta de 8,39%.

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Segundo o analista da Genial Investimentos, Vitor Sousa, a experiência da Equatorial na recuperação de empresas com deficiências operacionais e em dificuldades financeiras é considerada fundamental para que a CEEE-D consiga retomar os investimentos em distribuição e melhore a qualidade do serviço prestado. "É algo que eles vêm fazendo há pelo menos 15 anos, comprar ativos problemáticos e tentar extrair valor deles", disse. Hoje, a distribuidora é considerada a pior do País em termos de qualidade. Porém, no ranking da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), algumas empresas, como a do Amapá, não foram consideradas.

Segundo ele, no entanto, os desafios para a recuperação da CEEE-D são diferentes dos encontrados pela Equatorial, quando adquiriu companhias deficitárias nas regiões Norte e Nordeste. Lá, a companhia se apoiou no potencial de crescimento da base de clientes e na redução de perdas para tornar o ativo rentável mais rapidamente. "Nessas regiões, o mato é mais alto, sem dúvida", afirmou.

Visão semelhante tem o professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro. "A CEEE é terra arrasada e a Equatorial é especialista nesse tipo de operação, de pegar uma empresa quebrada e criar valor", afirmou. "Fez isso com a distribuidora no Maranhão e no Pará, enquanto a CPFL não tem essa expertise."

Como grande parte do mercado, Castro esperava a presença da CPFL no certame, por conta dos ganhos de sinergia que se esperava poder conseguir. "Prevaleceu a racionalidade econômico e financeira, mais do que o interesse em ampliar sua atuação geográfica e a presença no Rio Grande do Sul", disse.

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Bancos de investimento e corretoras também destacaram as habilidades da Equatorial na reestruturação de empresas de distribuição, como o principal ponto positivo da aquisição.

Em relatório, os analistas do BTG Pactual disseram que a compra da estatal gaúcha foi acertada e adiciona Valor Presente Líquido (VPL) potencial de R$ 1,02 bilhão para Equatorial, o equivalente a um adicional de R$ 1 por ação. Os números levam em consideração que a Equatorial melhorará a linha de despesas operacionais (Opex) e terá performance 25% melhor em relação ao patamar regulatório até 2024 e que as perdas de energia atingirão o nível regulatório em 2025.

"Apesar de ser uma concessão desafiadora, estamos confiantes na experiência da empresa em recuperar ativos complicados, e isso mostra que o apetite de crescimento da Equatorial ainda está lá", escreveu o analista João Pimentel.

Após vencer o leilão, a Equatorial disse prever investimentos específicos na rede da distribuidora, mas não revelou os valores. Segundo a companhia, já no decorrer deste ano e em 2022, o grupo deve injetar recursos "que irão auxiliar na melhoria da qualidade dos serviços e do atendimento aos consumidores".

O objetivo com esses aportes é "alcançar os indicadores de desempenho esperados, a exemplo da redução de perdas não técnicas e investimentos em tecnologia". Segundo a empresa, os recursos e reestruturação planejados resultarão na recuperação da saúde financeira e operacional da distribuidora. "A soma da experiência do Grupo Equatorial e do corpo técnico da CEEE será essencial para que a população receba um serviço de qualidade", afirmou o presidente da Equatorial, Augusto Miranda.

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Distribuidora atende 72 cidades no Rio Grande do Sul

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A distribuidora gaúcha atende 72 municípios das regiões metropolitana, Sul, Centro-Sul, Litoral Sul e Litoral Norte, equivalente a 26% do Rio Grande do Sul, mas com localidades nas quais há quantidade menor de clientes ainda aguardando para serem conectados à rede. Hoje, a base de clientes da CEEE-D é de aproximadamente 1,7 milhão de unidades consumidores.

Por outro lado, o maior desafio da CEEE-D atualmente é equacionar o alto endividamento, que ultrapassa R$ 4 bilhões e promover a melhoria na qualidade dos serviços. Atualmente a empresa passa por uma severa crise financeira e tem encontrado dificuldade em cumprir com suas obrigações, o que levou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a abrir processos de caducidade da concessão.

Por esse conjunto de motivos, a CPFL, que era considerada a potencial compradora por já controlar a outra distribuidora gaúcha, a RGE, desistiu de apresentar proposta. "A CPFL Energia, após avaliação do ativo CEEE-D, optou por não participar do leilão por entender que não houve equilíbrio entre risco e retorno, respeitando a disciplina financeira", disse a empresa, em nota. "Mantemos a nossa estratégia de investimento e expansão das nossas operações no Brasil e continuamos constantemente olhando as oportunidades que surgem no setor elétrico."

Para os analistas da Ativa Investimentos, os ajustes financeiros para o equacionamento da dívida não serão simples, mas a Equatorial já demonstrou ser capaz de lidar com situações desafiadoras e prover mudanças para colocar a operação nos eixos. "Contando ainda com a estabilidade regulatória do setor, a potencialidade da base de ativos da nova aquisição e o sucesso do plano de reestruturação financeira para realizar potenciais sinergias que o ativo oferece".

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Na mesma linha, os analistas do Citi destacaram o atual quadro de endividamento da concessionária, porém reforçaram que a "Equatorial merece o benefício da dúvida antes que mais informações sejam divulgadas". "Esse é um marco importante para a empresa", dizem.

Venda tira passivo das contas do governo gaúcho

A venda da empresa pode ser considerada também positiva para o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que com a privatização se verá livre de um passivo que ajudava a pressionar as contas do Estado, um dos mais endividados do País.

Segundo Leon Rangel, gerente de Minas e Energia da consultoria BMJ, a dívida bilionária da estatal sai das costas do governo e passa a um ente privado. Além disso, ele disse que a privatização ajudará Leite a enquadrar o Estado no plano de renegociação de dívidas com a União, dando um passo importante para resolver um problema com o qual os governadores do Rio Grande do Sul foram obrigados a conviver por mais de 20 anos.

"O problema do endividamento piorou com a crise econômica, e a situação ficou calamitosa, então isso é uma vitória relativamente importante para ele", afirmou.

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Esta reportagem foi publicada no Broadcast+, no dia 31/03/2021, em cobertura desde 7h56.

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