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Bastidores do mundo dos negócios

Estouro da 'bolha das fintechs' pode afetar demanda em IPO do Nubank

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Por Altamiro Silva Junior (Broadcast), Matheus Piovesana (Broadcast) e Cynthia Decloedt (Broadcast)
Atualização:
Nubank vai oferecer conta corrente no México e Colômbia  Foto: JF Diorio/Estadão

A fintech indiana de pagamentos digitais Paytm fez uma das maiores estreias da Bolsa da Índia, na semana passada. Captou US$ 2,5 bilhões, em sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) na quinta, 18. Um dia depois, os papéis caíram 27%. No segunda-feira, perderam mais 13% de seu valor. Já a brasileira Stone, que caiu 80% este ano, começou esta semana valendo menos do que no IPO, após errar a mão na concessão de crédito. O temor do que já vem sendo encarado como um "estouro da bolha das fintechs" é que os grandes investidores internacionais desistam do IPO do Nubank, avaliam gestores no Brasil e em Nova York. É uma das ofertas mais aguardadas do ano, que vive sua reta final.

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A previsão é que o Nubank estreie na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse) e na B3 em 9 de dezembro. Porém, a percepção internacional sobre as fintechs vem piorando rápido, o que tem provocado vendas generalizadas de papéis do setor. A reserva das ações para participar do IPO do Nubank começou dia 17 e vai até 7 de dezembro, com o preço na estreia sendo definido no dia seguinte.

A fuga das ações da área tem como pano de fundo a aceleração no aumento de juros nos Estados Unidos, o que deve retirar liquidez das Bolsas. O modelo de negócio das fintechs, que em sua maioria dão prejuízo e precisam captar dinheiro com frequência, é avesso à nova realidade. Ou seja, não é o melhor momento para o IPO do Nubank, diz um gestor de um hedge fund em Wall Street.

Migração do Inter

Outro gestor diz ver contaminação alta neste momento, não só a respeito do IPO do Nubank, mas também sobre a migração do Inter para a Nasdaq. Além das condições macro desfavoráveis, há discussões no Brasil que podem piorar o cenário de negócios para as fintechs, como a proposta do Banco Central de limitar tarifas em transações com cartões pré-pagos. No prospecto de sua oferta, o Nubank estimou que essa mudança poderia ter reduzido sua receita em R$ 120 milhões, em 2020. A Zetta, associação que representa o Nubank, se colocou contra a proposta em manifestação ao BC.

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Boa parte dos compradores das ações da Paytm, como BlackRock, Canada Pension Plan Investment Board e fundos soberanos, incluindo o de Cingapura, devem entrar na oferta do Nubank. O mesmo vale para quem comprou Stone, que inclui a T. Rowe Price, tradicional investidor em empresas de tecnologia. Por isso, o temor de impacto na demanda pela ação, a redução no tamanho das ordens.

A derrocada das ações da fintech indiana pode ser um indício de que os bancos de investimento estão empurrando as avaliações das fintechs muito para cima. Para o diretor de um fundo estrangeiro, a Stone já caiu demais, mas não deixa de emitir um sinal de alerta a potenciais compradores do papel do Nubank, que espera chegar ao mercado como o banco mais valioso da América Latina.

Se o modelo de concessão de crédito da credenciadora está sendo testado, pode piorar a percepção para outras fintechs. A demanda do varejo pelo Nubank está garantida, sobretudo por conta do interesse de pessoas físicas no Brasil, que podem investir a partir de R$ 30. Essa parcela, porém, é a menor parte do IPO.

A percepção de que pode haver uma bolha nos preços das fintechs e startups tem aumentado. "Existe uma bolha potencial nesses ativos, sendo avaliados a dez vezes a receita e não se fala em Ebitda (lucro antes de juro, imposto, amortização e depreciação), porque muitas delas ainda não o tem", diz o sócio da gestora Spectra Investimentos, Renato Abissamra.

Essa valorização excessiva começa na indústria de venture capital, que investe em companhias nascentes. "O que está acontecendo aqui e lá fora é que existe muito dinheiro disponível e a tese de ventures capital ligada à tecnologia é muito atraente", diz ele.

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Por conta da percepção de que os ativos estão excessivamente valorizados, a gestora de Abissamra, focada em investimentos de Private Equity em ativos alternativos, está gradativamente reduzindo a exposição de seu fundo em ativos de venture capital. "Estamos bem cautelosos com venture capital e reduzimos a exposição de 22% em VC no Brasil e na América Latina no nosso fundo III de 2016/2017 para 16% no fundo IV, de 2019", disse.

Procurados, o Nubank e o Inter não comentaram.

 

Esta nota foi publicada no Broadcast+ no dia 23/11/21, às 18h12.

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