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Bastidores do mundo dos negócios

Juro 'zero' e liquidez empurrarão mais empresas afetadas a captar na bolsa

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Por Fernanda Guimarães
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As empresas precisam de caixa, principalmente as que foram afetadas pela crise deflagrada pela pandemia da covid-19. E os investidores buscam rentabilidade, em um mundo que recebeu trilhões de dólares de liquidez, mas em um ambiente de juros baixos, inclusive no Brasil, que alcançouo feito de juro real zero. Essa combinação funcionará como um imã para empresas que, afetadas pela crise, busquem o suporte do mercado de capitais para refazer o caixa. Com bancos comerciais seletivos para aprovar crédito novo, as ofertas de ações devem ganhar tração no mercado local, ainda mais com as últimas ofertas mostrando o enorme apetite de investidores, a despeito da volatilidade, ainda muito presente nos mercados.

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Muitos setores, como o varejo não essencial, observaram as receitas minguarem em meio à pandemia com muitas lojas físicas fechadas por conta da quarentena mandatória para conter o ritmo de disseminação do vírus. Mesmo assim, deixando a crise de lado, Centauro e Via Varejo, que acabaram de ir a mercado, por meio de ofertas subsequentes (follow ons), anotaram grande demanda dos investidores, mesmo com os profundos impactos da crise nos negócios de ambas. Nas duas, a demanda pelas ações foi típica de um mercado "bullish", ou seja, com viés de alta. Centauro captou R$ 900 milhões e Via Varejo, R$ 4,4 bilhões. "Estas ofertas devem dar tração a outras empresas", comenta uma fonte.

Além delas, outras empresas estão com situação semelhante: precisam de caixa para recuperar a boa saúde financeira. "As empresas que ainda não estavam com boa estrutura de capital pré-crise ou nas quais o endividamento subiu muito em decorrência da pandemia, possivelmente irão considerar fazer um follow on", destaca uma fonte de um banco de investimento. O movimento seguirá no curto e médio prazo beneficiado pela elevada liquidez nos mercados, com os Bancos Centrais de todo o mundo, em especial o dos Estados Unidos, o Fed, injetando trilhões de dólares nas economias, na tentativa de mitigar os efeitos da crise.

O caso da Via Varejo, que concluiu ontem sua oferta de ações, é visto como um chamariz para outras empresas que ainda precisam reforçar o caixa. Além dos bilhões de reais que colocou no caixa, a empresa conseguiu, em paralelo, negociar com seus credores - que estavam no sindicato dos bancos que estruturaram a oferta - um alongamento da dívida, em dois anos. "Apenas com essa renegociação a Via Varejo teria tranquilidade, mesmos sem a oferta", disse um gestor.

Muitas empresas precisaram de caixa nesse momento de crise, mas, com os riscos inerentes ao perfil de crédito mais elevados, tiveram mais dificuldades em acessar crédito bancário. Como consequência, muitas delas devem tentar o acesso a recursos via mercado de capitais. "Menos mal que esse canal segue aberto. Isso facilita recuperação de alguns setores", afirma uma fonte de mercado.

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Na prática, a queda adicional da taxa de juros no Brasil não deve trazer um impulso a mais ao mercado de capitais, visto que o patamar já estava muito baixo e já vinha atraindo novos investidores ao mercado. "A partir desse nível já não vejo muita diferença. Agora basta manter a perspectiva de que não há descontrole nas despesas recorrente para essa agenda de mercado de capitais avançar cada vez mais", pondera uma fonte.

O efeito de juros baixo para a atração de novos investidores para o mundo da renda variável vem sendo observada desde o ano passado - e a curva ascendente segue mesmo após a eclosão da crise trazida pelo novo coronavírus: em maior o número de pessoas físicas na depositária de ações da B3 bateu os 2,5 milhões, mais do que o dobro em um ano.

A captação de fundos de ações também tem sido elevada em 2020, conforme dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). A entrada de recursos nessa classe de fundos, se descontando os resgates, soma R$ 48,4 bilhões, de janeiro a maio.

Contato: fernanda.guimaraes@estadao.com

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