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Bastidores do mundo dos negócios

Lobby de frigoríficos sobre governo dos EUA foi 'trágico', diz relatório

Por Gabriel Baldocchi (Broadcast)
Atualização:
Unidade da JBS em Greeley, nos EUA; empresa já foi alvo de hackers  Foto: Jim Urquhart/Reuters

Uma investigação de um comitê parlamentar nos EUA levantou questionamentos sobre a conduta dos frigoríficos em relação aos funcionários na pandemia e detalhou o esforço "agressivo" de lobby do setor para manter as atividades em pleno funcionamento durante a crise. O trabalho sugere ainda tentativas das cinco gigantes do setor - Smithfield, Tyson, Cargill, National Beef, controlada pela Marfrig, e a JBS - de minimizar os riscos de contágio na atividade.

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O texto, divulgado na última semana, foi elaborado pelo Subcomitê de Crise para o Coronavírus, com base na análise de 151 mil páginas de documentos. O grupo é comandado pelo democrata James E. Clyburn. O relatório conclui que o resultado da campanha de lobby do setor "foi trágico" e cita a infecção de 59 mil trabalhadores e a morte de 269 funcionários, no primeiro ano da pandemia, no universo das cinco companhias.

O número já havia sido apresentado em relatório do subcomitê de outubro. Mas as novas conclusões avançam sobre o caminho percorrido pela indústria para pressionar contra medidas de segurança que pudessem comprometer a produção, como o lobby feito junto ao governo federal, sob a administração de Donald Trump, para tentar barrar medidas de proteção exigidas por autoridades estaduais.

JBS USA foi alertada sobre hipótese de surto em unidade

A JBS aparece como exemplo para ilustrar os alertas recebidos sobre os riscos de contágio nas atividades. Um e-mail de abril de 2020 reproduzido no relatório mostra a mensagem de um médico de um hospital do Texas em que informa que todos os casos recebidos na unidade estavam relacionados com a fábrica do grupo. O profissional cita a hipótese de um surto no local e sobe o tom: "Seus trabalhadores vão ficar doentes e podem morrer se a fábrica continuar aberta." O relatório diz que não é possível concluir se a mensagem foi respondida.

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Outra mensagem do consulado do México enviada à direção da empresa cita preocupações sobre as medidas sanitárias na unidade de Iowa. Recentemente, a família de um funcionário da unidade vítima da covid-19 processou a brasileira sob acusação de ter negligenciado os cuidados na crise.

Representantes da JBS e da National Beef também participaram, segundo o relatório, de um esforço para elevar o tom da mensagem contra o absenteísmo de funcionários por medo da covid-19. Executivos do setor pediram para que Trump ou então vice-presidente Mike Pence expressassem publicamente a necessidade de os funcionários continuarem suas atividades.

A JBS também é apontada como fonte de pressão contra autoridades locais de saúde e é citada em resposta de um assessor de Pence a um executivo do setor sobre as ações para evitar o fechamento de unidades com caso positivo. Segundo o relatório, ele diz já "estar trabalhando no caso da JBS no Colorado", unidade que, na época, estava sob risco de fechar.

Empresa diz que saúde e segurança dos funcionários guiaram decisões

Procurada, a JBS afirmou que a saúde e segurança dos funcionários guiaram as decisões da empresa durante a pandemia. "Durante este período crítico, fizemos tudo o que era possível para garantir a segurança da nossa força de trabalho, que manteve a essencial cadeia de suprimentos de alimentos em funcionamento", afirma a JBS dos EUA, em nota. A companhia também diz que não aguardou a regulação para adotar medidas de proteção em nível até superior aos padrões da indústria. Entre os esforços, citou a obrigação de máscaras, o afastamento remunerado de trabalhadores com saúde vulnerável, distanciamento social, aplicação de testes, a redução da capacidade produtiva e a instalação de ventiladores. Já a Marfrig não comentou.

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Os novos apontamentos se somam às conclusões levantadas pelo mesmo comitê em relatório de outubro. Nele, estão elencados os dados individuais de contágio por empresa no primeiro ano da pandemia. A JBS aparece com 12.859 mil funcionários infectados e 62 mortes de trabalhadores por covid-19 no período, atrás apenas da Tyson. Na National Beef, foram 2.470 infecções e seis mortes, segundo o documento.

Durante a pandemia, a subsidiária americana da JBS elevou seus gastos com lobby. Em 2021, registrou o maior desembolso com profissionais da área desde 2007, para US$ 794 mil (cerca de R$ 4 milhões). Uma das prioridades da atuação foi a segurança do ambiente de trabalho, segundo dados públicos compilados pela ONG Opens Secrets. Já a National Beef desembolsou US$ 30 mil (US$ 148 mil) com lobby no ano passado.

 

Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 19/05/22, às 15h59

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