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Bastidores do mundo dos negócios

Mercado Livre amplia número de armazéns e deve gerar 7 mil novos empregos

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Por Talita Nascimento
Atualização:
Ariel Szarfsztejn será o novo presidente de e-commerce do Mercado Livre    Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

O Mercado Livre vai sair de sete para 11 armazéns, no Brasil, voltados a produtos de pequenas e médias empresas (PMEs)  e também de grandes, como o GPA,  que anunciam na plataforma. Esses centros de distribuição prestam o serviço conhecido como fulfillment: armazenagem de produtos, recebimento dos pedidos, processamento e entrega ao consumidor final.

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Com as quatro novas instalações, o Mercado Livre chega a 1 milhão de metros quadrados dedicados a esse fim. O valor investido no projeto de ampliação é mantido em sigilo. Mas, em entrevista exclusiva ao Broadcast, Ariel Szarfsztejn, que será o novo presidente de e-commerce da companhia, disse que, ao fim, serão 7 mil novos contratados para trabalhar nas novas instalações. Hoje, já são 12.500 funcionários no Brasil. Na operação global, a companhia tem 17 desses centros de distribuição.

Szarfsztejn vai assumir o posto de Stelleo Tolda assim que co-fundador do Meli deixar o dia a dia da empresa, em 31 de março. Antes de ser alçado ao posto que coordena a atuação do comércio eletrônico nos 18 países em que o Mercado Livre atua, o executivo cuidava da área de logística da companhia, o Mercado Envios. Em 2018, quando assumiu a área, o Mercado Livre entregava 5% do que os lojistas virtuais vendiam pela plataforma e 95% eram entregues pelos Correios. Hoje é o inverso.

Depois de entregar esse crescimento, Szarfsztejn agora passa a implementar mudanças que levam a mais rentabilidade. Uma das principais é a diminuição de subsídios para o uso da infraestrutura de fulfillment da empresa. "Creio que o momento macroeconômico, custo de combustíveis, inflação e demais, nos obrigam, assim como a outros competidores, a acompanhar isso com alguns ajustes em tarifas", disse.

Antes, nas compras acima de R$ 79, patamar a partir do qual o vendedor tem de oferecer frete grátis, o Mercado livre pagava de 70% a 80% do valor do frete quando o lojista virtual deixava seus produtos armazenados nos CDs da companhia. Agora, esse subsídio passará a ser de 50%. Ele garante, porém, que o crescimento continua a ser prioridade para a companhia e que as novas fontes de receita serão reinvestidas no negócio: "Ao final, o Mercado Livre não está aumentando tarifa para gerar mais botton line (linha final do balanço, lucro), mas para gerar renda que se possa reinvestir no negócio, em novas verticais. Tudo isso precisa de investimento, então temos de buscar formas de financiar esses investimentos", afirmou

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A mudança será paulatina e começou a acontecer em janeiro. Desde então, segundo a empresa, não houve diminuição no número de lojistas que utilizam o serviço de fulfillment, nem no número de produtos que são enviados a esses CDs. No segmento de moda, mesmo depois do início da redução de subsídios, os vendedores do segmento já cadastraram mil novos produtos na plataforma no mês de fevereiro.

A seguir, os principais pontos da entrevista:

Broadcast: Qual a novidade em relação à capacidade de armazenagem?

Ariel Szarfsztejn: Estamos abrindo quatro novos armazéns de logística no Brasil este ano. Vamos passar de sete a onze. Será um milhão de metros quadrados para guardar produtos de pequenas e médias empresas no Mercado Livre, o que vai implicar em sete mil novos postos de trabalho.

Broadcast: Vocês estão buscando mais formas de rentabilidade por meio do fulfillment?

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Szarfsztejn: Começamos a operar fulfillment centers entre 2017 e 2018. Durante muito tempo, tivemos um armazém no México e um no Brasil. Era uma oferta pequena em relação ao tamanho que tinha o Mercado Livre. Nos últimos anos, crescemos aceleradamente a quantidade de armazéns. Temos 17 distribuídos na região: México, Brasil, Argentina, Chile e Colômbia. A pandemia nos obrigou a ter um crescimento muito acelerado. Às vezes, postergando iniciativas de rentabilidade para assegurar que teríamos a capacidade de atender aos clientes. Uma coisa que propomos para esse ano é seguir elevando o nosso padrão. Por isso, estamos colocando muita tecnologia e automatização para que o custo de operar os nossos armazéns seja menor, ainda que tenhamos, no Brasil, 12.500 pessoas e estejamos contratando mais 7 mil. Estamos colocando robótica e tecnologia para que a produtividade dos armazéns seja melhor e isso leva a mais rentabilidade. Além disso, durante muito tempo, o Mercado Livre subsidiava as tarifas de operar com fulfillment para os vendedores, fazendo com que operar com o nosso fulfillment fosse mais barato do que operar com outro modelo logístico. Algo que decidimos mudar esse ano é que vamos nivelar essas tabelas de preços, basicamente para que isso seja sustentável. A medida que a infraestrutura cresce, isso também coloca muita pressão no P&L (Lucros e Perdas, na sigla em inglês) do Mercado Livre.

Broadcast: Como será a aplicação dessa mudança?

Szarfsztejn: Vai ser paulatino. Algumas dessas tarifas já começaram a mudar para alguns lojistas virtuais. À medida que o mercado amadurece, vamos mudando. O Mercado Livre vai seguir subsidiando 50% da tabela de envios cada vez que um comprador elege um produto de mais de R$ 79 no Brasil. O que acontecia antes é que, quando um produto saía do fulfillment do Mercado Livre, subsidiávamos de 70% a 80%. É isso que estamos mudando.

Broadcast: E essa diminuição de subsídios já vai melhorar a rentabilidade?

Szarfsztejn: Estamos buscando o tempo todo formas de sermos mais eficientes. Creio que a melhor forma de melhorar rentabilidade não é cobrando mais do vendedor e do comprador o tempo todo, mas, sim, nos tornando mais eficientes, melhorando nossa estrutura de custos e para poder investir essas eficiências em rapidez de entregas. Colocamos, por exemplo, inteligência artificial para calcular rotas para que, assim, cada motorista leve menos tempo na entrega. Coisas desse tipo que nos levam a ser mais eficientes sem que isso seja feito sempre cobrando mais.

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Broadcast: Com a mudança no subsídio, os lojistas deixaram de usar os serviços?

Szarfsztejn: A verdade é que, por ora, não. Medimos quantos vendedores usam o serviço e quantos produtos os vendedores mandam ao depósito. As duas métricas se mantiveram estáveis ou, ao contrário, subiram. O vendedor quer vender mais e, à medida que usa mais o nosso serviço, vende mais, porque o comprador tem uma experiência melhor e recebe mais rápido.

Broadcast: Todas as plataformas que operam no Brasil passaram a fazer movimentos em direção à rentabilidade, reduzindo subsídios ou aumentando as tarifas cobradas por venda aos lojistas virtuais. Isso é uma consequência dos investimentos feitos para crescer nos últimos anos?

Szarfsztejn: É um conjunto de muitos anos de investimento em crescimento que, de alguma maneira, necessita de encontrar algum equilíbrio. Creio que o momento macroeconômico, custo de combustíveis, inflação e demais, nos obrigam, assim como a outros competidores, a acompanhar isso com alguns ajustes em tarifas. Por outro lado, essa é uma questão de maturidade da indústria de e-commerce que tem se revolucionado no Brasil e crescido nesses anos. Em todo caso, o foco é sempre em crescer. Ao final, o Mercado Livre não está aumentando tarifa para gerar mais 'botton line' (linha final do balanço, lucro), mas para gerar renda que se possa reinvestir no negócio, em novas verticais. Tudo isso precisa de investimento, então temos de buscar formas de financiar esses investimentos.

Broadcast: Vocês desenvolvem muitas coisas dentro de casa, de maneira orgânica. Recentemente, porém, há uma nova estratégia de aquisições?

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Szarfsztejn: Compramos pouco. Foram pouquíssimas vezes, em 22 anos, as vezes em que decidimos comprar uma companhia. Isso tem a ver com o nosso DNA e nossa cultura. Não cremos em atalhos. Cremos que o caminho difícil e complexo é o que vai nos levar ao êxito. Às vezes, um competidor crê que encontra um atalho comprando uma companhia. No entanto, na prática, acaba sendo mais complexo do que parece. Tendo dito isso, seletivamente, às vezes encontramos ativos que se destacam e que podem nos levar a outro nível. Compramos a Achado, uma companhia que fazia software para logística. Esse software foi a arquitetura básica sobre a qual construímos nosso próprio sistema de gestão de todos os armazéns e depósitos de toda a América Latina. Acabamos escrevendo esse software quase inteiro, mas partimos de algo. No ano passado, anunciamos a aquisição da Kangu (empresa de tecnologia que conecta comércios físicos à plataforma de marketplace (shopping virtual) para operarem como ponto de envio e coleta de produtos) que foi muito estratégica. Mas, em geral, você não vai encontrar o Mercado Livre agressivamente comprando 10 companhias em um ano para suprir o que não tem. Não somos uma companhia de varejo, somos uma companhia de tecnologia. Nosso artigo mais valioso é a nossa equipe de tecnologia, que constrói todas as soluções sobre as quais se apoiam a nossa plataforma. Comprar companhias, ao final, se choca com essa visão de uma companhia de tecnologia que constrói seu próprio produto, seu próprio software.

Broadcast: E na Spac (Companhia de Aquisição com Propósito Específico, na sigla em inglês) que vocês patrocinaram junto com o fundo de investimentos Kaszek, a intenção é a mesma, aquisições pontuais e estratégicas?

Szarfsztejn: Sempre gostamos de contribuir com o ecossistema empreendedor de tecnologia na América Latina. Temos o Meli Fund, venture capital que existe há muitos anos, que usamos como veículo para acompanhar empreendedores e empresas de tecnologia. Investimos mais em pequenas empresas para amadurecê-las. O Spac vai complementar isso, seguir buscando uma forma de acompanhar o desenvolvimento de empresas de tecnologia na região. Claramente, a Spac aponta para uma companhia ou companhias maiores. Ela não é do Mercado Livre, atua de forma independente. Tem a ver com buscar objetivos ou companhias muito particulares que podem seguir elevando o ecossistema tecnológico.

Broadcast: Em relação às questões de governança da plataforma, recentemente um anúncio problemático de produtos de cunho nazista veio à tona. Ser líder da categoria deixa vocês mais expostos em situações como essa?

Szarfsztejn: Mais do que ter a ver com ser o líder, tem a ver com o nosso modelo que permite que qualquer vendedor publique em nossa plataforma. Colocamos muito foco e esforço justamente em seguir melhorando e curando a qualidade do inventário que temos. Uma de nossas prioridades é o nosso programa de proteção à propriedade intelectual. Colocamos muitas equipes na prevenção de fraudes, que criam mecanismos de inteligência artificial e acham anúncios fora do compliance. Eles correm o inventário o tempo todo. Nossos algoritmos estão tratando o tempo todo disso e derrubando os anúncios. Somado a isso, temos pessoas que fazem moderações e permitimos às marcas que participem ativamente e façam denúncias. A combinação dessas frentes nos ajuda a termos possivelmente um dos sites mais curados da internet.

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Esta entrevista foi publicada no Broadcast no dia 18/02/22, às 16h20.

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