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Bastidores do mundo dos negócios

Metaverso pode reproduzir desigualdades do mundo real, diz especialista em direito virtual

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Por Cynthia Decloedt (Broadcast)
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 Foto: Reprodução

O metaverso - ou o mundo virtual que as empresas encaram como a nova fronteira a ser explorada - podem acabar reproduzido as mesmas desigualdades de gênero e sociais vividas no mundo real. As evidências estão nos registros de variados incidentes discriminatórios na inteligência artificial. Robôs, por exemplo, têm discriminado mulheres na concessão de limite de cartão de crédito, apesar de as clientes terem renda e cargo profissional exatamente iguais aos de homens. Também houve registros de processos de seleção no qual o robô foi "treinado" com referências sexistas de contratações feitas anteriormente.

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Motivo para a distorção: de maneira geral, há baixa presença de mulheres em cargos de alta tecnologia. "Não são as mulheres que estão escrevendo os códigos fonte", afirma a presidente do escritório especializado em direito virtual Opice Blum Bruno e Vainzof Advogados, Camilla Jimene. "É uma necessidade urgente que mais mulheres participem dessa construção, caso contrário, estigmas de gênero serão reforçados no ambiente virtual."

A média de mulheres em empregos de alta tecnologia no mundo é de 11%, conforme pesquisa da KPMG com executivos de empresas. Na América Latina, esse porcentual é pouco superior a 16%. "O aumento da presença feminina traria uma visão de mundo diversificada, com a criação de obstáculos para os vieses inconscientes", diz ela.

Europa debate como evitar discriminação virtual

Jimenez afirma que uma possibilidade aventada pela Comissão Europeia é que a Inteligência Artificial seja não discriminatória desde sua concepção (non-discrimination by design). "Os próprios algoritmos, no processo de tomada de decisão, incorporariam o tratamento igualitário de gênero previsto na legislação. Essa seria uma forma de evitar a discriminação toda vez que os sistemas de IA tomassem decisões envolvendo dados de homens e mulheres", observa.

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Mesmo assim, os cientistas já adiantaram que deve haver a participação humana na tomada de decisão da IA, especialmente quando a escolha tiver de ser feita com base na correlação de dados baseada no gênero. "Ou seja, para que a IA não seja discriminatória, o mundo real também não deve ser", afirma.

A relevância do assunto está no fato de que as empresas têm se preparado e ingressado fortemente em ambientes virtuais para realizar negócios. "Há uma tendência crescente de atendimento a empresas que buscam nosso apoio para criar seus espaços no metaverso", acrescenta.

Segundo Jimene, o trabalho que os advogados vêm desempenhando nesse momento é ainda consultivo, relacionados a conformidade às leis de proteção de marca, propriedade intelectual, de dados e de defesa do consumidor. "As disputas judiciais devem vir como um segundo passo", afirma.

A maior parte dessas empresas que buscam consultoria está construindo universos virtuais para a venda de bens e a violação de propriedade intelectual é uma grande preocupação. De acordo com Jimene, o "roubo" de marcas por "avatares" têm sido recorrente.

As empresas também demandam apoio jurídico para ampliar a vida off-line - quando as pessoas não estão conectadas - por meio das experiências online, o que é chamado de cibridismo. "Será um novo ambiente de negócios, que vai se consolidar", prevê.

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Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 16/08/2022, às 10:37.O Broadcast+ é uma plataforma líder no mercado financeiro com notícias e cotações em tempo real, além de análises e outras funcionalidades para auxiliar na tomada de decisão.

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