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Bastidores do mundo dos negócios

Minoritários da Sabesp cobram Governo Doria por mudanças na estatal

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Por Fernanda Guimarães
Atualização:
 Foto: Nilton Fukuda/Estadão

Passada a eleição municipal no ano passado, investidores minoritários da Sabesp, empresa de saneamento apontada como uma das joias da coroa do Estado de São Paulo, voltaram a pressionar o governo de João Doria (PSDB) por uma solução para a estatal. Apesar do pleito principal do mercado ainda ser a privatização, uma das cobranças para o curto prazo é de uma mudança na gestão. O governo, que controla a Sabesp com uma participação de 50,26%, respondeu ao grupo que contrataria uma consultoria financeira para analisar a situação da companhia.

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Chega junto. O grupo de acionistas que começou a se movimentar pelas mudanças possui pouco menos de 10% de participação da empresa. Uma apresentação feita no fim do ano passado ao secretário da Fazenda, Henrique Meirelles, e ao secretário de Planejamento de São Paulo, Mauro Ricardo, tratava dos investimentos que vem sendo realizados pela estatal, apontados como ineficientes. O documento levado ao governo cita ainda divergências nos valores reconhecidos pela agência reguladora.

Inacessível. Apesar dessa apresentação, os investidores, segundo um dos minoritários da companhia, estão com dificuldade de acessar o governador desde agosto, depois que Doria, disse em um evento que o governo anunciaria a capitalização da Sabesp - e não a privatização da empresa, o que derrubou as ações da companhia. No ano passado, a ação da empresa caiu 24%, ao passo que o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, encerrou com valorização de 2,92%.

"Esse desempenho está muito aquém do que se poderia esperar de um Governo declaradamente liberal e que tem como um de seus pilares a atração de investimentos privados. No caso da Sabesp, seu principal cartão de visitas, o que vemos é exatamente o contrário", comenta o sócio da Miles Capital, um dos acionistas da Sabesp, Fabiano Custódio.

No documento apresentado ao governo, ao qual a Coluna teve acesso, é mostrado um laudo elaborado pela Sabesp em abril de 2014, no qual a empresa calculava uma base de ativos de R$30 bilhões, dos quais foram reconhecidos R$24 bilhões pela Agência Reguladora dos Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp). Isso significa, na prática, que o retorno ao acionista foi menor por conta dessa ineficiência. O documento diz que, dessa forma, o fator de reconhecimento foi de 76%, sendo que a média no setor elétrico, onde grande parte das empresas são privadas, a média é de 98%.

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Segundo Custódio, da Miles, o aumento de investimento por parte da Sabesp, assim, significa uma destruição de valor a seus acionistas. "Não por acaso, toda vez que a empresa indica publicamente que acelerará investimentos, suas ações desabam. Mesmo com esse histórico ruim, a empresa fez propostas pela concessão de Alagoas e se diz interessada em participar das próximas licitações do setor e entrar em outros negócios", comenta.  Dentre os novos nichos indicados pela Sabesp estão o tratamento de resíduos sólidos, geração de energia e despoluição de rios.

Com isso, no pacote de cobrança dos investidores se pede explicações sobre o racional econômico por trás dos investimentos sinalizados na despoluição do rio, o tratamento de resíduos sólidos, e, por sim, concessões fora de SP."A empresa não é eficiente para esses novos investimentos. E quanto mais eficiente, menor é a tarifa cobrada. A empresa precisa ser mais racional e deixar seus critérios mais claros aos investidores", comenta outro investidor na companhia, que falou sob a condição de anonimato.

Na conta. O grupo pede explicações sobre o racional econômico por trás dos investimentos com a despoluição do rio Pinheiros, o tratamento de resíduos sólidos, e as concessões fora de São Paulo, vistas como desvantajosas.

Por conta dessa possível falta de eficiência, o documento apresentado ao governo cita um relatório distribuído ao mercado por analistas elaborado pelo banco suíço UBS, que aponta que a universalização do saneamento em São Paulo, até 2033, conforme o novo Marco do Saneamento Básico, com a atual eficiência apresentada, demandaria uma elevação da tarifa na ordem de 50%, ao passo que em um cenário mais eficiente, esse aumento poderia cair para 23%.

Mais altos. O mesmo documento que foi apresentado levanta que o custo médio por empregado da Sabesp é mais alto do que a de empresas do setor privado. Em uma média da Aegea, Iguá e BRK a média do salário anual em 2019 foi de 204,8 mil, ao passo que da Sabesp, também no ano passado, foi de 75,2 mil.

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Acionistas argumentam que essa situação já provocou uma saída em massa dos investidores estrangeiros da companhia. Eles apontam que estrangeiros que eram 26% da base da Sabesp no início do governo Doria hoje são apenas 15,6%.

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Há um pouco mais de três anos, a Sabesp chegou a contratar o Itaú BBA para a venda de 49% de uma holding que seria criada para controlar a empresa. O movimento ocorreu dias após o governo de São Paulo sancionar lei para a criação de uma holding de saneamento básico, que além da Sabesp reunirá outras empresas subsidiárias. Esse formato tinha sido indicado pela International Finance Corporation (IFC), que foi contratada para conduzir o estudo de capitalização da empresa, isso ainda sob a gestão do antecessor de Doria, Geraldo Alckmin. "Esse tipo de estrutura não faz omenor sentido depois do Marco do Saneamento".

Com a palavra. Procurada, a Sabesp disse que a Arsesp (agência reguladora do estado) "reconheceu de volta parte dos cortes do primeiro ciclo e aceitou quase a totalidade dos montantes investidos pela empresa". Disse que mais recentemente a agência incluiu na agenda regulatória a discussão sobre o montante remanescente do primeiro ciclo. Afirmou, ainda, que a redução de investidores estrangeiros "acompanhou o movimento de saída geral do mercado no período, assim como já se observa um retorno no final de ano". Frisou, por fim, que os salários e benefícios dos funcionários da Sabesp correspondem a cerca de 18% de sua receita líquida e que dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) mostram que as despesas com pessoal e terceiros em relação ao metro cúbico faturado acompanham o que ocorre nas empresas privadas do setor.

O Governo de São Paulo, por sua vez, afirmou que, como "acionista majoritário da terceira maior Companhia de Saneamento do mundo em termos de receita, tem concentrado seus esforços e investimentos, de forma responsável, na melhoria de qualidade de vida e saúde da população". Afirmou, ainda, que a companhia registra lucros sistematicamente há mais de duas décadas, mesmo no período de pandemia, quando foi garantida a isenção da tarifa e o abastecimento à população de baixa renda.

 

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