No total, o número de empresas nordestinas com liquidez na Bolsa não chega a dez. O número cresce um pouco se forem contabilizadas empresas com listagem antiga e de quase nenhuma liquidez. É o caso, por exemplo, da Companhia Energética de Pernambuco, hoje subsidiária da Neoenergia, cujas ações que ainda estão na bolsa são um resquício da privatização da empresa há 20 anos. Outra da região que pode engrossar a lista e já com pedido de registro para realizar o lançamento de ações na B3 é a Companhia de Água e Esgoto do Ceará.
A novata Moura Dubeux terá sua ação listada a partir de hoje, com o código "MDNE3". A empresa de construção residencial chegará à B3 com todas as pompas depois de a sua oferta de ações registrar demanda forte entre investidores. Esse movimento reflete a busca pela diversificação dos investimentos em meio à queda dos juros no Brasil, além da recuperação do mercado imobiliário.
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A ação foi precificada em R$ 19, no centro da faixa indicativa de preço, que ia de R$ 17 a R$ 21. A oferta foi integralmente primária, ou seja, todos os recursos engordarão o caixa da companhia. Foram coordenadores da oferta os bancos Itaú BBA, Bradesco BBI, Credit Suisse, BB Investimentos e Caixa Econômica Federal.
A Bolsa já foi palco neste ano de duas ofertas iniciais de ações - Mitre Realty e Locaweb - sendo que ambas fixaram o preço na abertura de capital no teto da faixa de preço. A oferta da Mitre foi a primeira incorporadora a abrir capital na B3 desde 2009, ano de estreia da Direcional.
Planos
A Moura Dubeux pertence aos irmãos Marcos, Aluísio e Gustavo Dubeux. O dinheiro será usado para zerar as dívidas e deixar o caixa livre para investimentos. Segundo apurou o Broadcast, o plano é expandir os lançamentos anuais gradualmente, saindo do patamar de R$ 400 milhões em 2019 para R$ 1,5 bilhão em 2025, com foco principal em Recife, Salvador e Fortaleza, e secundário em Maceió e Natal.
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Se isso se confirmar, a Moura Dubeux vai se consolidar como a maior construtora residencial do Nordeste, ocupando o espaço deixado pela Odebrecht, de Salvador (BA), e por companhias tradicionais do Sudeste, como Cyrela e Rossi, que desistiram de atuar na região.
A receita líquida da incorporadora nos primeiros noves meses de 2019 foi de R$ 311,1 milhões, um pouco abaixo da receita de R$ 315,9 milhões vista no mesmo período de 2018. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado foi de R$ 95,8 milhões de janeiro a setembro de 2019, ante R$ 12,541 milhões no mesmo intervalo de 2018.
Receio
A presença exclusiva no mercado do Nordeste foi, porém, um dos fatores para a casa de análise Eleven Research recomendar que os investidores ficassem de fora da oferta. "As incertezas de ritmo de vendas e capacidade de acelerar o ritmo de lançamentos tornam o investimento no mercado imobiliário do Nordeste mais arriscado no que no mercado paulista, onde vislumbramos ainda algumas oportunidades de investimento e companhias descontadas frente ao preço justo", descreveram os analistas Raul Grego e Carlos Daltozo em relatório enviado a clientes.
Para os profissionais da Eleven Research, a incorporadora tem uma dívida de curto prazo muito elevada, na casa de R$ 1 bilhão, principal razão para o lançamento das ações. "Assim, entendemos que o momento de mercado ainda não seja favorável para um crescimento agressivo de lançamentos no Nordeste, dada a elevada taxa de desempregados e ainda alto nível de distratos da companhia", disseram.
Notícia publicada no Broadcast no dia 11/02/2020, às 19:50:28
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