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Bastidores do mundo dos negócios

Petrobrás paga mais dividendo à União neste ano de crise

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Por , Renato Carvalho e Wagner Gomes
Atualização:
Sompo quer avançar em seguros ligados à exploração de petróleo    Foto: Fabio Motta/Estadão

 

Na contramão das demais estatais, a Petrobrás vai remunerar mais o governo federal neste ano de crise do que em 2019. Com o pagamento de R$ 1,6 bilhão em dividendos ao seu acionista controlador, a participação da companhia na arrecadação total do conjunto de empresas públicas vai saltar de 6,3% para 27%, informou o Tesouro Nacional ao Estadão/Broadcast. No ano passado, a estatal do petróleo repassou R$ 1,3 bilhão. Houve, portanto, uma alta de 23% desde então.

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A visão de especialistas é que, diante da queda abrupta da cotação do petróleo no início do ano e da pandemia de covid-19 e dos seus efeitos na receita de venda, a empresa teria justificativa legal para suspender a distribuição dos dividendos e, com isso, atravessar a crise com mais tranquilidade.

União vai receber valor maior do que no ano passado

A decisão da empresa, no entanto, foi de realizar um valor ainda maior para as ações detidas pela União, que vai receber, a cada ON da companhia mais do que recebeu em todo o ano passado. Considerando os pagamentos já feitos e programados para 2020, o governo tem direito a R$ 0,43 por ação ordinária. Em todo o ano passado, esse valor foi de R$ 0,35.

O preço da ação ordinária, detida pelos acionistas controladores, para o cálculo da distribuição de dividendos em 2019 foi definido em assembleia de acionistas na semana passada. Por tradição do mercado financeiro, o valor do papel preferencial é maior que o das ações ordinárias. Essa é uma maneira de atrair investidores. A Petrobrás, no entanto, contrariou o costume, e estabeleceu que cada ação preferencial, detida pelos minoritários, neste ano, vale praticamente nada (R$ 0,000449).

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Segundo a empresa, os valores por ação aprovados em assembleia são, na verdade, um complemento ao que foi utilizado no pagamento antecipado do dividendo no ano passado. Em 2019, ela pagou adiantado R$ 0,50 por cada ação detida pelos acionistas majoritários. Neste ano, acrescentou R$ 0,23 para chegar a um valor total de R$ 0,73. Já o valor das preferenciais antecipado foi de R$ 0,92 e não ficou remanescente para este ano. Assim, segundo a empresa, no fim das contas, as preferenciais ficaram com um valor superior ao das ordinárias. A visão de especialistas, no entanto, é que, diante da crise, a empresa teria justificativa para não pagar o complemento.

Especialistas se dizem surpresos com pagamento maior

João Zuneda, diretor da consultoria MaxQuim, diz ter ficado surpreso com o pagamento de dividendos pela petrolífera estatal. Ele comenta que a companhia poderia ter se utilizado da crise para postergar a distribuição do benefício e ter optado por se capitalizar. "Isso mostraria solidez e geraria um olhar diferente do investidor sobre a empresa. Uma companhia só paga dividendos se está bem equilibrada, tanto pelo lado das vendas quanto dos custos", comenta. Ele afirma que a Petrobrás, apesar de ter o controle majoritário da União, também produz benefícios para os outros acionistas.

Já o especialista em petróleo e gás do escritório de advocacia Vieira Rezende, Thiago Silva, corrobora a tese e acrescenta que a Petrobrás teria justificativa suficiente para não pagar o complemento à antecipação do ano passado, como prevê a Lei das Sociedades Anônimas. "Seria estranho a empresa tomar essa decisão se não estivesse confiando que o próximo ano será mais sólido", disse ele.

Só redução do endividamento justificaria pagamento maior, diz analista

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Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, diz que quando apresentou seu plano quinquenal, no ano passado, a Petrobrás havia sinalizado que tem a intenção de elevar a proporção do lucro direcionado aos dividendos. "Petróleo e gás é uma indústria madura, e nestes casos, os investidores esperam um maior volume de proventos. Isso deve ser uma ideia da administração, e uma demanda dos grandes investidores. Pagar dividendos é uma das melhores formas de mostrar que a empresa está bem".

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No entanto, Arbetman afirma que, no relatório de produção referente ao segundo trimestre, a empresa mostrou uma boa resiliência em exploração e produção, mas em outras linhas, foi um período difícil. "O que ativaria o gatilho para um pagamento maior de dividendos seria uma diminuição da dívida bruta pela Petrobrás. E pelos dados do segundo trimestre, é muito difícil que aconteça este ano. Vai depender muito da dinâmica nos dois próximos trimestre, mas acho improvável".

Na visão de Tasso Vasconcellos, analista CNPI da Eleven Financial, também é improvável que a Petrobrás eleve o payout no curto prazo, mas também não acredita que a empresa vai cortar totalmente o pagamento de proventos. "Neste momento, por conta das incertezas, as empresas estão 'sentando' no caixa. Então, seria contra-intuitivo a Petrobrás pensar em elevar a proporção de dividendos agora", afirma.

 

Esta reportagem foi publicada no Broadcast+ no dia 27/07 às 17h05.

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